sexta-feira, 19 de abril de 2013

Já cá não está

o meu velho professor Vitorino Nemésio, que durante um ano, me ensinou tudo.... estudar era andar por aí , ouvir o povo, olhar com olhos de ver, dialogar sem desejo de saber tudo, fixar o importante, amar o que é simples, viajar sem roteiros marcados, amar este Portugal e a sua cultura de séculos, compreender a sua Alma, as suas gentes, os seus porquês.

Ainda me lembro das suas aulas semi-caóticas, em que o professor começava a falar da Calçada dos Mestres e acabava no Beco do Fala-só. Para tudo tinha algo a acrescentar, uma graça, um reparo, um gesto de mãos que falavam como ele.

Natural dos Açores, nunca perdeu o sotaque, nem mesmo após anos de continentalidade. Na altura com 18 anos,  eu não alcançava toda a grandeza de cada uma das suas aulas e sofria as ansiedades de saber o que havíamos de estudar para o exame de Cultura Portuguesa. É que não havia quem ousasse fazer sebentas daquela cadeira que englobava este mundo e o outro. A carteira do aluno era posta no estrado junto à secretária do júri, pois ele queixava-se de não conseguir ouvir o que os alunos diziam "lá em baixo".

Tenho pensado muito nele. Fui a procura dum livro de poemas ou romance,  li o Mau tempo no Canal há muitos anos, livro soberbo, mas nada encontrei. Na livraria só têm livros de autores modernos. Comprei Já não vem Ninguem de Sidónio Bettencourt, outro açoreano,  oriundo duma família de baleeiros da Ilha do Pico, que escreve um misto de prosa e verso.

Aqui me banho nestas águas mansas
límpidas , salgadas
aqui se encontra a vida em museu
o que fica dos lanchões, do atum, 
das fábricas, do gado embarcadiço
da construção naval, das traineiras,
aqui ainda há esta abreviatura
de silêncio, o cântico à alegria no
eco da montanha ou o seu choro triste
nos sinos do convento


verde é a esperança eu tenho esperança sobre este mar azul

tão fundo nos meus lábios a seara verde dos teus olhos
e os olhos campos verdes de tanto mar

As fotos são só um retalho do verdadeiro patchwork
que ontem vi.

Hoje tenho de trabalhar, mas ao olhar estas fotos, tenho a certeza de que não me vai faltar inspiração, mesmo que não possa transmitir o que me vai na alma.

É belo demais para ser verdade.




6 comentários:

  1. Fico sem palavras, Virgínia, diante da beleza destas fotografias que até me trouxeram lágrimas aos olhos (que eu hoje estou assim) e das suas palavras, neste lindíssimo post.
    Definitivamente, parece que hoje está tudo muito inspirado (menos eu, que estou num mau humor que não tem explicação).

    Olhe, resta-me agradecer-lhe por partilhar connosco estes pedaços de paraíso! :)

    Um grand ebeijinho
    Isabel

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  2. É mesmo verdade, Virgínia,nos Açores tudo é belo demais.
    E as suas fotografias também são muito belas.

    Um abraço.

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  3. Recomecei há dias a ler o "Mau tempo no canal", o melhor romance do século XX!
    Belo texto este seu e, claro, belíssimas fotos!
    Beijos,

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  4. Obrigada, Paulo.

    Não estão tão boas como quereria, pois no hotel as condições eram más, a net ia abaixo e puz as fotos quase sem tratamento. Tenho mais de 400....algumas de sítios inimagináveis e vou ver se as arranjo e catalogo....

    Obrigada, Meu querido Amigo. Bjos

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  5. Vou lhe dar uma dica, porque quando quero livros é lá que os encontro. Abra conta na Wook é uma editora online . Aqui vai o link :http://www.wook.pt/product/facets?palavras=mau+tempo+no+canal...
    Tem toda a razão,nas livrarias não existe praticamente livros dos clássicos portugueses.Ontem encomendei um de Camilo castelo Branco, Memórias de Cárcere . Enviaram e-mail com confirmação que já foi posto no correio. Por acaso tenho o livro Mau Tempo no Canal.No caso de ser difícil obter arranjo-lhe uma forma de satisfazer a sua vontade.

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  6. Comprei hoje o livro na Leitura , a minha livraria aqui do Porto.

    Obrigada. Conheço o Wook, mas em geral, uso a Amazon pois compro mais livros ingleses que portugueses:)

    Bjo

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