domingo, 28 de abril de 2013

Viver não custa

Há muito que deixei de beber café puro, como eu gosto, expresso, curtinho e que nos enche de adrenalina.

Há pouco fui almoçar com a minha filha ao BB Gourmet, onde só comemos uma sopa de camarão, mas que foi pretexto para sairmos de casa neste dia ventoso  mas duma luminosidade que até cansa. O céu está teimosamente azul, já aparecem umas nuvens tipo simpson, cinzentas e brancas, as árvores estão excessivamente verdes, as glicíneas trepam pelas grades e até pelos troncos das árvores vizinhas, as azáleas regurgitam de flor de tal modo que nem se vêem os pedúnculos, os castanheiros do Japão ostentam os seu cachos branco e rosa, a natureza aqui onde eu moro venceu a corrida contra a poluição do tráfego e, ao domingo, sente-se o odor do jasmim, das rosas de S. Teresinha e da glicínea, num misto de perfumes intensos que me inebriam.

Hoje, não sei porquê acordei as 5.30 da manhã e não consegui dormir até as 7. Estive aqui a trabalhar no meu novo manual, num tema que me é querido: imigração. Tenho dois textos, um sobre multiculturalismo, outro sobre um cantor que emigrou da Polónia para os EU em 1920.

Adoro didactizar estes textos, puxar pela cabeça dos alunos, explorar o seu "critical thinking" ( agora muito na moda), testar as minhas próprias capacidades de ainda criar algo de novo. Senti-me inspirada, cheia de vigor e com desejos de ir mais e mais longe...


Hoje à tarde vou a um recital no Museu Romântico ( nome lindo), em que o meu neto vai tocar a solo um concerto húngaro para violino e já estou expectante, pois toque ele bem ou mal, " eu sei que vou te amar por toda a minha vida"...

Domingo de sol, um pouco triste porque o meu filho partiu para os EU mais uma vez, mas com certezas de que a vida para mim ainda não acabou.

Ainda não me sinto "une vieille" na definição de Jacques Brel que tão deprimente é :


Les vieux ne rêvent plus, 
leurs livres s'ensommeillent, 
leurs pianos sont fermés,
Le petit chat est mort. 
Le muscat du dimanche 
ne les fait plus chanter,
Les vieux ne bougent plus, 
leurs gestes ont trop de rides, 
leur monde est trop petit,
Du lit à la fenêtre, 
puis du lit au fauteuil, 
et puis du lit au lit
(...)

Recuso esta versão pouco animadora da velhice. Recuso-me à sedentarização. Quero emigrar para outros mundos, outros horizontes, com ganas de vencer, com esperança de me realizar. Não consigo baixar os braços, ou como dizia o meu ex-, "bater a bola baixinho". Bebi um café , hoje, e soube-me pela vida. Logo vou ter insónias pela certa.

Mas para já, desculpem lá,  vou ainda dormir uma sestazinha....:)



6 comentários:

  1. Cá estou eu deste lado!
    Referiu-se a dois artista do mundo da música que gosto muito: Vinicius de Morais e Jacques Brel...
    Pelo que vou lendo neste blog, tem vida activa muito interessante e muito desperta para o lado bonito da vida que me encanta! Por isso, nada de pensar em velhices! Há gente jovem muito velha!...Deus me livre!...
    Beijinho.

    ResponderEliminar
  2. E faz muito bem ( em estar desse lado a comentar este post!!!)

    Gosto imenso dos dois também. Jacques Brel é a minha adolescência a ouvir discos de vinil que os meus pais traziam de França ou que lhes eram oferecidos por amigos franceses, o Vinicius já me transporta para os anos 70, primeiros anos de casada, a gravar discos emprestados da Maria Bethania, Caetano Veloso, Toquinho e Vinicius, etc.

    A minha vida é activa, mas ando muito tolhida...os meus problemas de artrose têm piorado e hoje quase não conseguia descer uma ladeira que levava ao museu romantico. Vou começar com acupuntura a sério e espero melhorar.

    Obrigada pela sua presença....não há nada melhor que conversar!!!
    Bjinho

    ResponderEliminar
  3. Também recuso aquela versão sobre a velhice, apesar de me sentir um pouco mais cansada e,às vezes, desiludida.
    Mas a Virgínia é muito nova e cheia de ideias e dinamismo.

    Um abraço.

    ResponderEliminar
  4. Hoje em dia as pessoas conservam-se mais novas mais tempo....tudo melhorou nesse aspecto.

    Mas os meus avós faleceram com 82 e 94 anos e nunca foram esse tipo de velhos, felizmente. O meu Avô adoeceu na Galiza para onde tinha ido de comboio com a minha avó que era muito mais nova. A minha mãe tb nunca me pareceu velhinha e já tinha 84 anos quando faleceu. O meu pai infelizmente faleceu com a minha idade...merecia melhor.

    Não me falta dinamismo. Hoje gravei o meu Daniel a tocar e , Graciete, o video ficou óptimo....não o posso pôr aqui pois o meu filho não quer.....:))

    Bjinho

    ResponderEliminar
  5. Antes de mais, adorei o seu intróito botânico, belíssimo naco de prosa!

    Quanto ao resto, a Virgínia nunca vai ser velha, pois só se é o que a alma nos traz, e a sua só traz coisas boas e juvenis.

    Bjos,

    (tem comentário meu no post anterior...)

    ResponderEliminar
  6. Espero que não mas o Alzheimer assusta-me, mais horroriza-me.

    Mais parlons d'autres choses....

    Obrigada pelos teus comentários....TODOS!!

    Bjinho e bom feriado!

    ResponderEliminar