domingo, 1 de dezembro de 2013

Advento

Não sou religiosa, mas o maior encanto que encontro no Natal é precisamente o significado religioso da festa.
Em minha casa, éramos todos profundamente tradicionais no que à fé dizia respeito e muito menos tradicionais em relação à gastronomia e às prendas.

Lembro-me de, até aos 13-14 anos, só receber três prendas, uma dos pais, outra dos avós e uma do Tio Aleixo, o meu tio padre que vivia em Lisboa. Mais tarde começámos a dar-nos prendas mutuamente, mas isso só aconteceu quando já tínhamos algum dinheiro para poder comprar pequenas coisas.


Íamos sempre à Missa do Galo nos Jerónimos, a nossa igreja paroquial ou a S. Mamede, onde o meu tio celebrava. A ceia era um chocolate quente com bolo-rei e broas, na sala paroquial de S. Mamede ou em nossa casa já tarde.

As prendas só se viam no Dia de Natal, logo que acordávamos. Ficávamos felizes com prendas como estojos para a escola, gabardines, livros ou jogos.
Não me lembro de escrever ao Pai Natal, nem de mostrar descontentamento por alguma prenda menos excitante, embora os livros escolhidos pelo nosso Tio fossem às vezes um pouco maçudos :).

Quando um primo meu veio da Índia para viver connosco, começámos a receber prendas espectaculares, em geral, para recortar ou pintar, sempre entusiasmantes. Ele escolhia-as a dedo. Viveu cerca de oito anos connosco, depois foi dois anos para a guerra em Angola. Era médico e nós gostávamos dele como dum irmão mais velho.

Passávamos o dia a brincar com essas prendas e éramos felizes. A lareira estava acesa, havia música no ar e à noite um grande jantar em nossa casa com muitas coisas boas, perú e batata palha, bolos vários e muitos chocolates.  Também havia champagne.
Nunca comi bacalhau na minha casa.

Por vezes encenávamos uma peça para o serão ou então tocávamos piano e cantávamos cânticos de Natal, sendo o Adeste Fideles obrigatórios, assim como o Gloria, que o meu tio entoava com a sua voz de tenor.

Tenho saudades desses tempos pela simplicidade de que se revestia o Natal. Não andávamos nas correrias das compras, nem sequer tínhamos dinheiro para isso. A decoração era simples, um presépio tradicional e uma árvore de Natal, um pinheiro que o meu pai trazia da quinta ou comprava em Monsanto.

Hoje fiz a minha Adventskranz, tradição que adoptei dos alemães, dado que os meus filhos andaram no colégio alemão e lá todo o período do Advento era celebrado com pompa e circunstância. Os meus netos já andam a cantar Advent, Advent ein Lichtlein brennt há dias. Por eles e para eles, fica aqui música tradicional alemã de Natal...


6 comentários:

  1. Maravilha!
    Fui educada na religião católica, mas hoje pouco ou nada pratico os rituais e crenças que utilizam... Todavia, gosto de entrar em igrejas, das antigas, para descansar. Gostava de saber meditar , mas não sei como se faz.Em mim ficou o que souberam me transmitir sobre o Natal, viver em alegria nesta época especial...
    Que tenha muita Paz e Amor para dar e receber.
    Beijinhos.
    Beijinhos

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  2. Também gosto muito de entrar em igrejas e sobretudo gosto de ouvir música de orgão ou coros nas igrejas. Daqui a dias vou a um concerto na Sé do Porto, em que vão cantar o meu neto e a minha nora, estou ansiosa.
    Não acredito muito na instituição igreja, nem na vida no além, mas acredito na mensagem de Cristo e gosto muito de ter sido educada como fui.
    Boas entradas no periodo natalício e continue assim, cheia de força!
    Bjinho

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  3. Gininhamiga

    Antes de adventar uma informação para o Daniel que tem de resignar-se; JÁ ESTAMOS À CABEÇA DA LIGA!!!!!!!!!!!!!! SOMOS OS MAIORES!!!!! AH LEÕES DUMA CANA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Já está uma ADENDA na Travessa...

    Costumo dizer - e escrever . que fui católico, mas curei-me... Porém, recordo os nossos Natais do antigamente, com filhoses, bolo-rei, com prenda e fava o que hoje a ASAE proíbe..., presépio, árvore da Natal e prendas distribuídas no dia de Natal, etc. etc. etc. Como nessa altura ainda acreditava e praticava cheguei a ser leitor na Missa do Galo. Já foi.

    No entanto, continuo a respeitar a religião com o maior cuidado para não incomodar (ia a escrever chatear, mas contive-me) os crentes. Mas, com a crise e austeridade, que raio de Natal vamos ter? Debaixo da ponte, quiçá e sem bacalhau nem nada... Oxalá que não!

    Qjs & abç ao Daniel

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  4. Se bem me lembro encontrávamo-nos depois das missas do meio dia e íamos comer pasteis de belém quentinhos....lembras-te? Aliás o nosso círculo de amigos formou-se a partir dos encontros nos jerónimos, nas catequeses - tb fui catequista in illo tempore - e isso não nos traumatizou, pelo contrário, ajudou-me a perceber que é mais difícil viver sem acreditar do que fiarmo-nos num Alguém que vela por nós.
    Tiveste uma vida difícil, mas o SPORTING supera tudo, os leões são os maiores!!! Nunca gostei dos lampeões, de modo que hoje estou contente por vcs todos!!
    Bjinhos e obrigada!!

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  5. Na casa dos meus pais e depois na minha celebrava-se o Natal, não como festa religiosa, mas como Festa de Família. Mas desde há uns anos que, talvez pelo adiantado da idade, talvez por achar que era hipocrisia adotar um dia para a Família, pois a verdadeira Família celebra-se todos os dias e junta-se sempre que necessário, comecei a ligar menos a essa Festa que deixei mesmo de organizar . No entanto os meus filhos sempre vão aparecendo e, ora com um ora com outro, lá vou eu passando esses dois dias. Eu gostava mesmo era da passagem de ano, em casa, porque aí quase se sentia a esperança de um ANO VERDADEIRAMENTE NOVO. Uma vez fomos para a Avenida dos Aliados e eu gostei muito dessa confraternização alargada. Agora, embora a esperança permaneça, a angústia é muito grande perante o avolumar dos problemas para a maioria das pessoas em particular os jovens e os idosos. Não sei como vai ser este ano. Ainda nem sequer pensei nisso. Será talvez um dia como os outros em que a saudade dói mais um pouquinho mas em que no nosso pensamento mais se entranha a necessidade de continuar luta por outro MUNDO, em que o Natal seja igual para todos e se possa transformar numa verdadeira Festa de Alegria e Amizade Universais.

    Um beijo.

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  6. Muito bonito o seu post, Graciete. Não perca a esperança....mas vá aproveitando o que a sua família tem de bom, goze a sua felicidade pois tem direito a ela, já viveu uma vida difícil.

    Bjinho

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