quinta-feira, 18 de maio de 2017

Foz



Oceano Nox

Junto do mar, que erguia gravemente 
A trágica voz rouca, enquanto o vento 
Passava como o vôo do pensamento 
Que busca e hesita, inquieto e intermitente, 

Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céu pesado e nevoento,
E interroguei, cismando, esse lamento
Que saía das coisas vagamente... 

Que inquieto desejo vos tortura,
Seres elementares, força obscura?
Em volta de que ideia gravitais? 


Mas na imensa extensão, onde se esconde
O inconsciente imortal, só me responde
Um bramido, um queixume, e nada mais...



                                                    Antero de Quental, in "Sonetos" 

4 comentários:

  1. Antero de Quental indaga o Céu em busca de resposta, e só encontra o Nada.
    É um soneto triste onde a inquietação existencial de Antero de Quental se mostra, assim como noutros poemas. O quadro é bem mais "consolador". Lindo com uma paleta de cores soberba. Eu, pessoalmente, vejo o fundo do mar com a luz do sol a penetrar pela sua profundidade. Muito lindo. Bjs

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  2. Respondi-lhe no mail por engano.

    Este soneto espelha bem o que me vai na alma ao olhar o mar. Insondável.

    Cada vez me interrogo mais sobre o significado desta vida. Já nos anos 60 o Manel me punha muitas interrogações que testavam a minha fé.

    Hoje não acredito em nada....estou cada vez mais nihilista.
    Bjinho

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  3. Gostei muito do quadro
    Não conhecia o soneto e gostei, obrigada pela partilha aqui.
    um beijinho
    Gábi

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