domingo, 14 de maio de 2017

Sem destino certo



Hoje fui à Baixa embora estivesse a ameaçar chuva. Precisava de umas linhas para continuar o meu crochet. E também de ir ao talho, pois o meu filho viria jantar.
Até pensei que seria ida pela volta, dado o mau tempo que se fazia sentir aqui no Porto.

Mas não.

Ao meter-me no metro para voltar, deu-me uma vontade incrível de partir. Nem sabia bem para onde. Passei a Casa da Música, onde deveria sair e continuei, continuei até Matosinhos Sul. Nunca tinha ido de metro até tão longe. Foi uma experiência engraçada. Sentia-me no estrangeiro quase, não foram os jovens barulhentos que entraram no metro a certa altura.

Saí, o vento era forte, mas quente, quase tropical.  O ar marítimo encheu-me os pulmões. Rejuvenesci logo com a ideia de que o mar estaria próximo.

Andei até à praia quase deserta. Espraiava-se literalmente até ao mar lá longe. Era o contrário da Foz, onde o mar quase nos lambe os pés na esplanada. Nã havia rochas,  mas a paisagem era lindíssima com as nuvens prateadas e o sol a espreitar.

Dezenas de parapentes - não sei se se chamam assim - flutuavam no céu. Parecia uma imagem doutro planeta.


Junto ao Edifício Transparente faziam os preparativos para um evento desportivo, surf, corrida, skate e não sei que mais. Estavam muito animados com altifalantes e música. Não gostei muito, de modo que saí dali e fui para a esplanada cá fora, onde bebi uma água a olhar para o mar.



Sentia-me tão bem , depois de andar quase 4kms!! Há quem diga que as caminhadas fazem bem à alma, hoje senti-o muito bem.

O efeito do mar e da praia em mim  é algo quase místico. Nas minhas cartas já nos anos 60, eu falava ao meu namorado da magia que encontrava na água. Ele não percebia, achava um exagero e tinha receio do futuro a dois. Dava-se mal com o ar do mar e preferia passar férias nas termas, embora se queixasse depois que só havia velhos e que não se divertia nada por lá.



Nunca nos entendemos depois de casados, ele ia para a praia da Luz contrariado e só por causa dos filhos;  depois deixou mesmo de ir quando os miúdos cresceram. Não percebia a minha paixão por aquela praia, aborrecia-se com tudo, achava-se a mais porque não gostava do mar e passava os dias a ler. Queria comer a horas certas e refeições decentes, o que não dava muito jeito nas férias.

Para mim as férias passaram a ser um drama. A partir de certa altura, o meu marido optou por não ir. Ficava com a Mãe ou iam para as termas. Ia eu sozinha com os filhos, de comboio, de camioneta ( 14 horas), de taxi e comboio, enfim, ainda não havia a Ryanair. Mas tínhamos de aproveitar aquela benesse.

Passámos muitas férias separados pois os meus filhos adoravam a casa dos Avós, que agora era nossa durante 15 dias sem termos de pagar nada. Eu sentia a falta do meu marido, escrevia-lhe cartas bonitas que só agora recuperei e me fizeram saudades.

Às vezes pensamos que ter gostos diversos aproxima as pessoas. No meu caso, afastou-nos. Mesmo quando nos namorávamos, já sentíamos que eram vidas diferentes, meios diferentes, cidades diferentes. Sempre pensei poder superar tudo isso com Amor. Mas não chegou.








2 comentários:

  1. Respostas
    1. Não, o meu marido tb me amou à sua maneira. Disse-mo muitas vezes nestes sete meses de doença e deixou-me poemas escritos depois de nos separarmos.

      Eliminar