terça-feira, 13 de junho de 2017

Quadros que não ficam para a história


Nunca pintei com o intuito de vender, nem de expôr sequer. Acabei por fazê-lo a pedido. Mas não gosto muito, nem acho que valha a pena o esforço. Gosto muito dos meus quadros e ofereço-os a quem realmente aprecia, é das coisas que mais prazer me dá. Ainda há pouco tempo ofereci uns a duas amigas uma flautista e outra oboeista,  que estiveram cá  de visita e no ano passado, a uns amigos suiços que nos visitaram e apreciaram muito alguns dos meus quadros.
Também já tenho oferecido à família, aos meus filhos quando vejo que gostam deles, o que não acontece com todos. Em contrapartida já comprei quadros bastante caros, de que gostei.
Já ofereci mais de 30 quadros que me lembre. E também dei alguns para serem vendidos num centro de Coimbra que faz vendas para fins humanitários. Gostaria de deixar os meus quadros a uma instituição psiquiátrica, que se comprometesse a usá-los na decoração das paredes nuas e brancas que, em geral, nada ostentam de criativo. Mas isso só quando o rei fizer anos, é mais difícil doar coisas em Portugal do que nos outros países.


Comecei a pintar quando me reformei e durante uns 4 anos, frequentei dois locais que me ajudaram a ocupar o tempo deixado livre pelas aulas, onde se pintava sem grande ambição. Convivi com pessoas interessantes e mesmo excelentes pintores, que ainda hoje recordo com saudade. Não aprendi muito, talvez porque sou rebelde e gosto de experimentar e de inventar. Sempre fui assim...


Deixei o atelier já há uns anos. Na altura estava cheia de trabalho para a editora e as deslocações para a Antero de Quental eram cansativas, pois tinha de levar materiais, mesmo quando os tinha lá guardados. Também não me dava jeito pintar à 3ª feira e depois esperar pela semana seguinte para continuar o quadro. Gosto de fazer tudo seguido.


Na Paleta, o atelier que frequentei durante dois anos, saía de casa, andava uns metros e estava no local. Infelizmente, tendo o professor Nikola Raspopovic partido para Berlim, o atelier fechou. Está agora condicionado por exposições, muito raras. Faz-me pena passar por lá e ver tudo fechado. Fui muito feliz.  Descobri que gostava de pintar e tive apoio, não só do professor como da dona do atelier, que ainda hoje admiro, Mª José Casais com quem conversava longamente fora das aulas e sepre que me apetecia ir para aquele espaço maravilhoso.

No segundo atelier, onde o professor era extraordinário e credenciado, o Professor Domingos Loureiro, que sempre admirei e de quem me considero amiga, nunca senti o mesmo ambiente criativo.
Ali conversava-se mais do que se pintava, distraía-me com tudo , o espaço era exíguo e não me parecia estar num local de trabalho. Ainda hoje funciona com outra gerência, mas mudaram para a Rua da Alegria que fica mais longe. Nunca mais lá fui.


Nunca consegui pintar bem no meio de muita gente. Aliás, em casa só pinto sozinha. Nem oiço música. Olho pela janela, inspiro-me nos verdes que me rodeiam e pego nos pinceis.  As vezes até à noite, sem boa luz. Nem me sirvo do cavalete, pois uso muita água; pinto na mesa que é de acrílico e muito moderna.
À volta tenho o meu ambiente, tudo o que é verdadeiramente meu, livros e revistas sobre Arte, cartas de namoro em caixas lindas de papelão pintado,  livros feitos por mim, materiais variados e quadros meus ou que adquiri nestes anos. É um local privilegiado ainda que com pouca luz do sol.




Hoje resolvi tirar um dos meus quadros grandes da parede e colocar lá uma série de quadrinhos que tenho feito nos últimos tempos. São quase todos abstractos e emoldurados em madeira. Compro as molduras em várias lojas diferentes: na Worten, na Fotosport ou no Chinês. Gosto muito de madeira crua para este tipo de quadros com cores pasteis. As fotos infelizmente, ficam cheias de reflexos que deturpam as cores dos quadros.

Ultimamente, também fiz uns quadrinhos sobre o Yorkshire - região onde a minha Luisa vive e que é das mais lindas que conheço. São pequeninos mas muito bonitos, na minha humilde opinião.



Não tenciono convidar nenhum expert para os ver.  É só para meu gozo visual.

E fico feliz com pouco. :)

8 comentários:

  1. Atrevo me a dizer que não é verdade ser feliz com pouco. Dá valor e aprecia, com a vantagem de saber pintar, tudo o que a vida tem de bom. Sente se no entusiasmo com que escreve, pinta e a música com que nós vai brindando. Essa é a grande arte: ser feliz em todos esses momentos. Aprecio imenso a pintura, não o sei fazer, a minha filha é que tem estética e arte, daí ter enveredado pelas belas artes no Porto, mas gosta do meu sentido crítico.
    Já o filho, enveredou pela robótica, o que me dá esperança de me criar alguma geringonça, quando precisar... Uma emotiva e um lógico.
    Ambas temos algo em comum: os maridos terem singrado pelo Direito... não foi muito bom, durante uns tempos, senti que treinava o papel de acusação e argumentação comigo...
    Um beijinho para si, com muito sol é um mar que nos abana a alma, de tão belo que é.

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  2. Cara Júlia, há muito tempo que não escrevia no blogue e foi uma alegre surpresa, tanto mais que as suas palavras são muito animadoras. Num período conturbado, nada melhor que ler estas coisas. Acho que nunca seria capaz de tirar um curso de Artes. Sou muito indisciplinada e espontânea. O curso de Letras serviu-me como uma luva, pois podia exprimir-me com mais liberdade, ainda que tivesse de ler muito e saber línguas a sério. Sempre gostei de literaturas e música, o meu marido é que percebia mais de pintura e foi ele que me levou a descobrir os impressionistas ao 19 anos. Doces recordações. Gostei da sua observação sobre o seu marido. Fez-me sorrir. Muito obrigada pelas suas palavras. Beijinho.

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  3. Este texto fez-me lembrar que há anos também frequentei um atelier de pintura que funcionou primeiro em Leça e depois no Marquês - fui para lá por sugestão de um amigo. Gostei do tempo que lá passei pelas pessoas e pelas obras que vi criarem. Só pintei dois "quadros" um bem horrível e outro com base numa fotografia de que até gosto - deu para perceber que não tinha o génio e/ou a dedicação que via nos professores e nos colegas.

    Tenho gostado muito de todos os quadros que vi aqui.

    um beijinho
    Gábi

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  4. Obrigada, Gabi. Nem sepre gosto dos meus quadros e já destruí muitos, pintando outro por cima. Mas ultimamente só tenho pintado em tela sem estrutura, como se fosse uma folha de papel. Compro os blocos no chinês, só lá encontro estes blocos, muito práticos para que quer levar em viagem. E para emoldurar é muito melhor. Hoje mudei o cabeçaho, espero que tb goste! Bjinho.

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  5. Não ficam para a História, "uma ova" - já lá estão, através de anos e anos aqui publicados e tendo, assim, entrado na História de todos os que se deliciaram a vê-los, para lá das exposições... ainda me recordo da do ESCA, em que foram vistos por bastantes pessoas, apra lá de outras mais relevantes. Mas é assim: arte é para gozo pessoal, em primeiro lugar; depois virá o resto: partilha e até negócio. Felizmente tenho sido bafejado pela "sorte" e tenho recebido alguns, que se encontram espalhados pela casa de Lisboa e pelas Cezaredas.
    E é seguramente giro ir variando os quadrinhos e - privilégio de quem tem o talento que tens - ter uma panóplia grande para essa mudança. Beijinhos

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  6. E se viesses cá mais vezes poderias levar outros tantos. Obrigada pelo apoio. Sei de várias pessoas que os apreciam. Cheguei a conclusão de que tudo o que temos é importante enquanto existimos, depois, zero. Ando a escrever um diário, já com 60 páginas desde que o M.morreu. Falo com ele, como se estivesse a escrever mais uma carta... Bjos

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  7. Minha querida. as pessoas continuam vivas enquantopersistirem na memória de alguém. Depois, sim, morrem. E um quadro, uma história, um episódio, uma conversa um "chiste", algo que seja, mantêm os mortos bem vivos... enquanto há tantos vivos que estão mortos, por dentro e por fora. Beijinhos e... vou aproveitar a ponte aérea e ir ao Porto dia sim-dia não... trago um quadrinho, faço uma expo-Bicas, e compensa a viagem! Será um bom exemplo de "start-up"! Ahahaha!

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    Respostas
    1. Fizeste-me rir o que não é de desprezar nos tempos que correm...
      Assim seja. Preciso renovar o stock.
      Sabes que o M. detestava Bicas e chamava-me sempre Gina?. Tenho saudades de o ouvir a dizer esse nome, que era o da nossa Mãe.
      Sim, há muitos vivos que deixam a desejar e não estão muito longe de nos :)

      bjinhos

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