quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Mozart em bailado


Um espectáculo inolvidável, que me foi oferecido pela Brava HD, um canal que não me canso de elogiar, pois representa uma pedrada no charco desta televisão cada vez mais decepcionante.
O meu filho que não tem TV em casa por princípio exclamou quando cá veio e assistiu a um concerto neste canal, que ele não conhecia: Dá sensação de que estamos na sala de concertos.
É mesmo. Nada melhor para nos sentirmos acompanhados, em paz.



Estou a ouvir e a ver um bailado moderno com a música divinal da Missa Solene de Mozart e outros intermezzos tocados na Gewandthaus em Leipzig e cantada por solistas excepcionais. Os movimentos acompanham os coros ou os solistas ou apenas os instrumentais, uma coreografia bela e duma simplicidade enorme.

Quantas horas de beleza e tranquilidade nos são oferecidas por estes canais de música clássica! Sem eles, penso que teria a Tv quase sempre fechada, ainda que aprecie um bom jogo de futebol de vez em quando e um ou outro programa de informação.

Fica aqui um vídeo com 12 minutos desta adaptação.


segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

A época do defeso


Depois de ler tanta aberração, tanta contradição e mesmo justificações ridículas em telejornais, nos artigos do jornal ou nas redes sociais sobre o atentado em Paris, soube-me bem hoje entrar na semana com um passeio no Botânico, agora na época de defeso, grande parte vedada ao público, árvores sem folhagem, lagos vazios de nenúfares e papiros.




Por ali passeei uma hora, conversei com uma Avó que tomava conta do seu neto pequenino e contemplei tudo à volta.
Este jardim, mesmo em obras intermináveis . contém sempre algo de mágico, sobretudo quando está sol e  a luz e as sombras jogam às escondidas com os ramos esquálidos dos arbustos, projectando-se nas folhas mortas, nas ervas e trevos que cobrem o solo. Os reflexos na água, que ainda conseguimos fotografar, transmitem-nos imagens estranhas e pouco habituais, mas não menos belos, como se pode ver nestas fotos.

A grande histeria deste fim de semana - desculpem , mas não acredito nos métodos propalados por todas estas sumidades que desfilaram em Paris, nem acredito na boa fé dos milhões que os acompanharam - deixou.me cansada e farta da tão exaltada civilização ocidental. Continua a haver ódio, racismo, discriminação, ignorância cultural...e o insulto gratuito, mesmo em forma de cartoon, não deixa de ser um murro no estômago do adversário. Nada justifica o terrorismo, mas também nada justifica insultar-se durante anos um povo inteiro e as suas crenças, sem utilidade prática, que não vender pasquins.

É um mundo cheio de lodo, onde se torna difícil discernir os bons dos maus.




domingo, 11 de janeiro de 2015

Solo dominical

Já há muito que não passava um domingo a solo.

Filhos fora, netos fora, telemóvel desligado, skype desligado, ausência quase forçada para testar a minha própria capacidade de me aguentar sem comunicação e sem palavras ...logo falarei com a minha filha e é tudo.

Está sol, entra pela minha janela e inunda a sala, onde uma planta de Natal ainda resplandece vermelha de sangue. Não desmanchei a àrvore de Natal e só o farei quando me apetecer. Será Natal enquanto eu quiser.

Este ataque terrorista deu pano para mangas. Exaltei-me no FB, nunca consigo moderar as minhas palavras e irrita-me o carneirismo ( somos todos Charlies), a hipocrisia generalizada, a histeria burguesa instalada.

Prefiro ser calma e estar atenta a tudo o que se passa no mundo, inquietar-me com as inúmeras mortes que todos os dias acontecem em África, no Médio Oriente e até em Portugal. Morre-se de frio e ninguém levanta um dedo para dizer : Eu sou um "sem abrigo". Viva o pão, viva o tecto, viva a saciedade, viva o emprego! Isso é que era bonito. Os jornalistas do "Charlie" já há muito que viviam do insulto e sátira maldosa, que não contribuía para um mundo melhor. Contribuía para satisfazer os seus egos inchados.

Ontem fui ao cinema ver Birdman.
É um filme denso e inquietante. Filmado dum modo único, teatral, performances excelentes, quiçá  over-acting a mais.


Gosto da antítese entre o homem-pássaro que tudo sobrevoa e vence e o actor caído em desgraça, não reconhecido nos teatros da Broadway. O tema da queda dum mito - já bastante batido-  está presente e impressiona na figura representada por Michael Keaton, candidato a um Globo de Ouro.

Oiço o Mezzo: Daphnis & Chloe de Ravel, música etérea, que me afasta ainda mais da realidade. Procuro evadir-me, descobrir a paz, interiorizar a minha solidão. Não quero interferências. Hoje estou só comigo própria.

Coloco aqui uma canção sarcástica dos Sparks sobre a opção que escolhi. Este video é o meu retrato hoje.


I married myself
I'm very happy together
I married myself
I'm very happy together

I married myself
I'm very happy together
Long, long walks on the beach, lovely times
I married myself, I'm very happy together
Candlelight dinners home, lovely times

This time it's gonna last, this time it's gonna last
Forever, forever, forever

I married myself
I'm very happy together
Long, long walks on the beach, lovely times
I married myself, I'm very happy together
Candlelight dinners home, lovely times

This time it's gonna last, this time it's gonna last
Forever, forever, forever
This time it's gonna last, this time it's gonna last
Forever, forever, forever

Lil' Beethoven

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O Douro

É um rio sempre muito belo.

Não sei se é das curvas sinuosas que o fazem serpentear entre as cidades, escondendo recantos dos morros escarpados para, de súbito,  os revelar um pouco mais adiante, se é a luz velada que o nevoeiro acentua ainda mais, se é aquele abraço com o mar, hoje já menos evidente por causa do molhe, se são os pescadores que esperam horas infindas pelo mordiscar dos iscas, se dos barquinhos frágeis que baloiçam nas suas margens, ou se é do carácter antigo das casas cujas fachadas se debruçam sobre o rio e se reflectem na superfície dourada ou prateada conforme a luz do sol...







Ontem resolvi ir dar um passeio de carro até lá abaixo, sair do carro e andar um pouco na margem. Estava uma tarde de sonho, calma, quente...nem parecia inverno.

A minha empregada foi comigo e acabámos por ir tomar um café à Praia da Luz, onde o sol já estava mais baixo, embora ainda não fossem horas de se pôr. Conversar com ela durante uma hora fez-me bem. O ar de mar e o intenso cheiro a maresia ainda mais.

Esta cidade continua a encantar-me e estes dias de inverno cheios de sol ainda são mais belos do que os de verão. Os áceres aqui em frente não querem perder a folha, por estranho que pareças dá a sensação de que em breve virá a Primavera. Oxalá!!

Coloco aqui um poema que hoje a minha Amiga Regina  gentilmente me enviou ( 10/1).

Lesto, caminha o Sol para poente.
Sobre o rio, estranhas sombras dançam.
A música é feita de um rumor silente 
em magoado canto transformado.
Rumor das sombras?
Rumor das águas?
Rumor das mágoas?


"Entre Margens" - Regina Gouveia

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Adeus Charlie


Em 1975 fazia furor em França. Era a revista mensal Charlie com as suas histórias picantes, bandas desenhadas de adultos, cartoons picarescos e politicamente incorrectos.

Gostava do cheiro, das capas e da consistência. Ofereci a assinatura ao meu ex-marido no Natal durante uns anos.

Por vezes passávamos por uma garagem no Saldanha em Lisboa e encontrávamos números antigos da revista e também da Pilote, que era no mesmo género.

O meu marido ainda tem os números guardados lá em casa, penso eu. Deve estar a folheá-los com saudade. Porque não se sabe quando voltará o Charlie...



Não há palavras para definir estas barbaridades, são pura ignorância e fanatismo religioso. É dramático não sabermos até onde podem ir estas organizações que agora pululam pelo Mundo e que odeiam a civilização ocidental e a democracia, a liberdade de expressão e até o sentido de humor.

Odeiam tudo o que vai contra a sua interpretação do Corão. Que não é exactamente o que lá está escrito.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Utopias


À guiza de agradecimento ao meu Irmão Mário, que me abriu o acesso ao blogue antigo, coloco aqui um poema dele, feito para mim no seu blogue : O Espaço azul entre Nuvens - que infelizmente já terminou há anos, mas que ainda se pode ler na net. No sábado, foi a sua Mulher que me trouxe à Gare do Oriente, onde passei uns 20m a contemplar aquela beleza arquitectural, verdadeiro trabalho de filigrana dourada, que parece uma catedral. Não estava vento, nem chuva...os comboios iam e vinham, e depois da festa sentia-me feliz de regressar ao lar, onde o meu filho mais novo me esperava.

Gare do Oriente às 7 da tarde
Este meu irmão mais novo é multifacetado.
Tão depressa está a dar aulas na Universidade, como a ver crianças no consultório, a escrever livros sobre pediatria social, a dar entrevistas para revistas ( ver   http://www.publico.pt/sociedade/noticia/educar-nao-e-dificil-e-ter-momentos-terriveis-1680821                     , a passear o cão nas avenidas novas de Lisboa, a participar em reuniões da escola dos filhos ou a tratar das flores nas Cezaredas.....faz poemas com facilidade ( algo que invejo) e já publicou uma dezena de livros vários, de divulgação, pedagogia, romances, etc.

Quando eu entrei para o atelier Utopia, ele fez-me este poema de que gosto imenso. Retomo-o 4 anos mais tarde. Obrigada, Mário.

UTOPIA

Utopia
Não-lugar
Da sapiência,
Pilar
Da existência
Sem limites.

Utopia
Lugar
De ousados sonhos,
Lugar
Onde o medonho
É apetite.

Utopia
Lugar
Das harmonias
Onde até
Os deuses
Têm coração.

Utopia
Lugar
Das fantasias
Onde a humana condição
Existe
Livre.


Mário Cordeiro

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

A grande prenda do meu Natal


Hoje consegui acesso ao meu antigo blogue Cor em Movimento, que foi escrito de 2009 a 2012.

Tudo foi recuperado e pode ser lido e relido por quem quiser. Na lista de blogues à direita  está indicado o link.

Agradeço ao meu Irmão Mário esta bela prenda de Natal.

Esta foi a última foto que coloquei na entrada em 6 de Dezembro. Aqui fica para recordação.


domingo, 4 de janeiro de 2015

A família

Ontem foi a festa de Natal da família alargada. Estávamos muitos, embora faltassem os principais - os meus todos.

É  bom estarmos todos alive and kicking, como dizem os ingleses, mas o tempo vai afastando algumas pessoas, sem razões aparentes, apenas porque nos recusamos a fazer parte do grupo e "não vamos por ali". O espírito de clan continua a orientar alguns membros da família, que se sentem especialmente vocacionados para mandar nos outros....em vão. A verdade é que à medida que envelhecemos, vamos tolerando as idiossincrasias de cada um.

a 3ª geração

Na minha família depois da morte da minha Mãe, houve sempre um certo mal estar entre alguns de nós , o que não nos impede de ir aos almoços e de conversarmos abertamente, mas cria embaraços. É sempre bom ver os irmãos rapazes pois eles são mais importantes para mim do que qualquer das irmãs com quem tenho tido certos atritos. Todos os sobrinhos da 2ª geração (21) são delicados e afectivos connosco que muito cedo começámos a tomar conta deles ainda em Lisboa.

Verificar que as vinte e tal crianças e adolescentes já da terceira geração estão ali felizes e contentes, não havendo quaisquer quezílias entre eles durante horas é quase milagre. Os nossos pais haviam de ficar felizes de os ver a todos e de saberem que o seu sangue corre e há de correr nas veias dos presentes e dos vindouros. Fico contente de ter contribuído para isso com uma quota parte. Orgulho-me da minha família.


sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

A dança dos cogumelos


Sempre fui citadina, o meu contacto visceral com a Natureza acabou quando tinha uns dez anos e o meu Pai vendeu uma quinta que tínhamos em Albarraque, perto de Sintra. Aí vivíamos ao ar livre e ainda me lembro dos cheiros dos pinhões, das frutas, dos eucaliptos, do leite e animais.
Depois disso, passámos a ir para a praia nas férias, embora déssemos longos passeios em Sintra e gozássemos dos belos ares do Restelo, onde havia um jardim cheio de árvores e flores...


Hoje voltei à Natureza, por sorte quase sem sair de casa, visto que Botânico fica aqui em frente.
 Está em obras, mas tem sempre cantinhos onde podemos andar sem problemas. Grande parte dos lagos está vazia, à espera dos novos hóspedes, mas o jardim no inverno é claro, aberto, respira-se, há sombras e o sol entra por ali adentro sem interferência das copas das árvores que no verão cobrem o céu.


Quando me encaminhava para um local que gosto muito reparei num fenómeno espantoso. Esse local é um dos preferidos dos meus netos, pois tem uns troncos partidos que ficaram depois de decepada uma árvore gigantesca. Esses troncos constituem um enorme prazer para os miúdos que saltam e equilibram-se por cima delas, encavalitam-se, etc.


Choveu imenso este outono e o jardim está viçoso, mesmo luxuriante no que respeita as ervas, trevos, plantas saprófitas, heras, etc. Não ha´tantas flores - só camélias e algumas rosas - mas descobrem-se imensos seres vivos que continuam a habitar por aqui.


Hoje dediquei-me aos cogumelos. Fantásticos. Por todo o lado, dourados, brancos, irisados, azuis, esverdeados como as conchinhas que se alapam às rochas lá na Luz. São massas esponjosas que apetece tocar. Infelizmente não sei se são venenosos ou não...

Estes troncos decepados estão bem vivos, mesmo depois de mortos.

Fica aqui um poema de Jorge de Sousa Braga, a propósito:

O APANHADOR DE COGUMELOS



O mais difícil não é distinguir

entre um boleto pão-de-ló e um

boleto-de-satanás o mais difícil

não é andar quilómetros e quiló-

metros por uma floresta e chegar

ao fim com os pés enxutos.

O mais difícil é não sucumbir

à beleza desse mundo que se

alimenta de detritos em putre-

facção e onde não há flores

nem frutos


quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Dois anos

Faz hoje dois anos que iniciei este blogue.


O tempo voa, é impressionante como aquilo a que damos importância, perdem relevo com o esfumar dos dias.

Quando o recriei - pois o meu verdadeiro blogue era o Cor em Movimento - estava traumatizada por acontecimentos que me ultrapassaram e que consegui superar.

Dou o balanço como positivo e se fiquei triste de perder grande parte do texto do outro, este adquiriu um novo estatuto, um visual mais apelativo e acaba por ser mais meu.

Hoje dei im passeio de uma hora pelo departamento de Ciências , jardim que fica mesmo ao lado do Jardim Botânico ( este fechado), e onde os meus netos adoravam ir brincar, andar de bicicleta ou jogar à bola. Um deles tinha uma "oficina" junto a um árvore , um salgueiro, onde punha as suas pedras preciosas, pauzinhos, folhas, etc. Outras vezes íamos lá apanhar pinhas para a lareira num dos cantos onde um grande pinheiro se encosta.


Cheguei a casa pelas 3. De repente soou o telefone. Era um amigo meu de longa data, inglês, que vive em Portugal e que conheci no Woophy, tendo estado depois mais dum ano afastada por razões dele. Este ano ressuscitou e apareceu no FB. Fiquei feliz pois tinha uma amizade profunda por ele, trocávamos emails longos e tínhamos dramas familiares que eram compreendidos e partilhados. Segundo me disse, resolveu tentar falar pessoalmente com alguns amigos nestes dias. Nunca tinha ouvido a sua voz, que é típica dum inglês culto, faz-me lembrar a voz do actor que faz o papel de Sherlock Holmes na série mais moderna.

Falámos 4 horas ao telefone.É inacreditável. O sol pôs-se e nós ainda falávamos de tudo, mas sobretudo das nossas vidas, do país, de mentalidades, de estados de alma, traumas e problemas. Só interrompemos porque a minha filha me telefonou no skype. Teria ficado mais uma hora a falar com ele...

Um dia de Ano Novo só, mas  tão bem acompanhada por um Amigo distante.



 Nunca tal me tinha acontecido...