sábado, 8 de fevereiro de 2014

Philomena e a 7ª Sinfonia de Beethoven

Ontem à noite e hoje à tarde - pelo meio com uma tromba de água que desabou sobre o Porto-, vivi momentos maravilhosos, daqueles que agora no ocaso, guardo cá dentro como algo de precioso e infinitamente meu.

Ontem fui à Casa da Música com o meu neto e filha para ouvirmos um daqueles concertos em que o reportório é todo ele à medida do ouvinte mais básico de música clássica. Só faltava a Abertura Leonore ou das Bodas de Fíigaro, substituindo a vibrante Finlândia de Sibelius, para o programa ser comme il faut.
Já ouvira todas as peças noutros concertos, inclusivé já ouvira esta orquestra tocar a 7ª na Igreja de São Bento da Vitória nos primórdios da sua existência. Não sei em qual deles vibrei mais, mas esta sinfonia de Beethoven tem o condão de me pôr de joelhos ou de pé aos saltos, numa simbiose de recolhimento e exaltação difíceis de aguentar...

Todas as peças escolhidas tinham a ver com o cinema, fazendo parte das bandas sonoras de Elvira Madigan, Caça ao Outubro Vermelho, O Discurso do Rei, ou os diversos Die Hard. Mas são peças que existem para além de qualquer conotação cinematográfica. Já existiam antes de haver cinema....

O meu neto, mal acabou o concerto, ainda se estava nos aplausos, deu-me um longo abraço e disse : "Obrigada, Vóvó!" A carinha dele dizia tudo....


Descemos as escadas - intermináveis - do edifício e cá fora esperava-nos um temporal desabrido. Parecia que o céu ia tombar e chovia a cântaros, com um vento gélido a estraçalhar qualquer chapéu de chuva que os incautos ousassem abrir. Chamei um taxi, percorri toda a distância que vai da porta até à avenida e ali ficámos - eu com um casaquinho de fazenda sem qualquer protecção na cabeça e os meus dois queridos com kispos frágeis, a apanhar aquela tromba de água desumana. Veio um taxi - o nosso - e uma família inteira enfiou-se nele sem dó nem piedade. Pensei que me dava "uma coisinha má", dirigi-me às escadas, onde havia alguma protecção embora já encharcada que nem um pinto e voltei a telefonar para os taxis, que me informaram de que o "meu"já tinha seguido viagem com outros passageiros ( grande novidade), pois estava muita gente aglomerada na avenida!! Pedi outro, dei o meu nome e arrostámos com mais 5 minutos de água em catadupa...só a música de Beethoven, que ainda ressoava no meu cérebro, me terá feito manter a calma. Quando chegámos a casa, dei 20 euros ao motorista e ele disse-me que não tinha notas de cinco euros só dez, de modo que acabei por pagar dez euros em lugar de cinco. Chovia tanto que até lhe teria pago os 20 só para chegar a casa.

 O meu neto estava preocupadíssimo comigo e só me perguntava: estás bem, Vóvó?....este miúdo não existe!

Hoje fui ao cinema ver um filme cujo trailer tinha despertado imediatamente a minha atenção : Philomena.

Britânico na essência, embora uma co-produção.
Stephen Frears realizou A Rainha, para mim um dos melhores filmes que vi nos ultimos anos.
A sua sobriedade e gestão dos sentimentos das personagens ( que são pessoas a sério) é notável. Com pouco, faz muito, com simplicidade, torna a história complexa. Com atores a sério, transforma a banalidade em drama ou comédia. Genial em low profile.

Um filme que faz chorar...quem é mãe sabe - ou pressente -  o que significa perder um filho inexoravelmente...e não pode deixar de sofrer por interposta pessoa, quem é mãe compreende a necessidade de recuperar tudo o que possa existir em termos de passado e presente, mesmo que isso represente sofrer de novo. É um filme para mulheres, nesse aspeto.

Um filme a ver....diferente e muito bom...

6 comentários:

  1. Há que tempos não vejo nada de especial no cinema. Ao ponto de andar a comprar DVDs para ver em casa...
    Agora vem o ciclo Bergman para o Campo Alegre, aí perto de si, Virgínia; espero lá ir duas ou três vezes, rever aquelas imagens melancólicas de gente do norte pouco feliz :) coisa que nunca percebi muito bem, deve ser falta de sol; pelo menos deu belos filmes !

    À CdM talvez volte para o Sokolov, mas estou pouco entusiasmado com o programa.

    Por falar em sol, venha ele que estamos fartos, isto parece o país de Gales, chuva por cima, mar pela costa, cheias nos rios, um país a meter água por todos os lados.

    Abraço soalheiro
    Mário

    ResponderEliminar
  2. Vi quase todos os filmes de Bergaman no célebre cinema Império em Lisboa nos anos 60. Chegeui a ver tres filmes no mesmo dia, numas sessões especiais. Confesso que houve uma altura em que já não conseguia vê-los. Há tempos comprei pela Amazon a Sarabande e a Sonata de Outono e adorei. Vi-os em DVD e gostava de os ver no ecran. Se vierem lá estarei.

    Não comprei bilhetes para o Sokolov, tenho de ver se ainda os há.

    Adorei foi a reacção do meu neto à sinfonia...estava delirante!!

    Já ouvi duas vezes o concerto de Schumann com a MJ Pires. O Valquírio oferece-nos pérolas destas...

    Um abraço e bom Domingo. Queria ir à Foz, mas a marginal está vedada a peões....:(

    ResponderEliminar
  3. Pena a chuva porque o dia valeu a pena, com a sua ida à Casa da Música. Ao cinema tenho ido pouco. Vi Doze anos de Escravo, de que gostei bastante, e penso ir ver Philomena.
    Entretanto vamos esperando pelo SOL porque este tempo chuvoso, cinzentão faz aumentar os nossos problemas.

    Um beijo

    ResponderEliminar
  4. Adorava ir a Foz, mas está interdito ao transito e até aos peoes.
    Vou aturar os netos em alternativa :)))

    Bjinho

    ResponderEliminar
  5. Dois relatos comoventes que me provocaram lágrimas: a forma como conta a sua ida ao concerto e o belo filme!
    Parece que há um ditado popular que diz que em gostos não se discute.Quando ouço esta frase digo: pode ser, mas os gostos também se educam! Assim é com a música. Ouvir ou ler opiniões como a sua sobre a arte musical vai-se aprende o que é a verdadeira música.
    Tem um neto, p´lo que vou lendo do que escreve sobre ele ,muito bem formado. Assim se conserve nesta sociedade portuguesa que tem muito a desejar no campo cultural e não só!
    Beijinhos.

    ResponderEliminar
  6. Madalena,

    Sinto muitas evzes que gostaria imenso de a conhecer em pessoa, pois já a conheço bem pela net. Estou aqui com um areira acesa, a ouvir a M. J Pires a tocar o concerto nº 23 de Mozart ( 2º andamento comovente até dizer basta) e sinto-me superprivilegiada....

    O meu neto é alguém muito especial, com uma sensibilidade acima da sua idade......os outros dois tb são deliciosos cada um a seu jeito. Hoje vem cá ver o Benfica.....:) Mas nós torcemos pelo FCP, claro!!

    Bjinhos e obrigada!!

    ResponderEliminar