sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Sophia no Panteão?

Álea do Jardim Botânico do Porto
Nunca fui ao Panteão em Lisboa. Fui ao de Paris, salvo erro. Não gosto de locais fechados onde se enterram pessoas.

Não sou fã de sítios uniformes onde é pressuposto honrar as grandes figuras da nação.
Caracterizar o que faz de uma personalidade uma grande figura da nação é muito subjetivo e teria de ser amplamente discutido antes de se transladarem os corpos - à custa do erário público já bastante depauperado - e de se encherem as páginas dos jornais, blogues ou redes sociais sobre o assunto.

Quero ser cremada, já o disse aos meus filhos pois não acredito que haja vida para alem da morte. As cinzas podem ser deitadas aqui neste jardim botanico maravilhoso...ou no mar da Foz, onde tantas horas passei embevecida.

Só espero que Sophia Melo Breyner, a grande poeta e escritora portuguesa, não seja mais uma a servir os interesses políticos dos nossos governantes e parlamentares, que tão desacreditados estão.

Diz Helena Sacadura Cabral no seu Fio de Prumo:

Os partidos com assento parlamentar assinaram um projecto de resolução conjunto, que deu entrada no parlamento na terça-feira, para avançar com o processo de trasladação de Sophia de Mello Breyner Andresen.
A proposto foi subscrita por todos os partidos com assento na Assembleia da República”. 
“É uma homenagem justa a uma das grandes referências da língua e da cultura portuguesas”. 
O documento é assinado por 11 deputados, de todas as forças políticas representadas e propõe a constituição de um grupo de trabalho para “determinar a data, definir e orientar o programa da trasladação” para o Panteão Nacional, em articulação com outras entidades públicas. 
A intenção é homenagear “a escritora universal, a mulher digna, a cidadã corajosa, a portuguesa insigne” e evocar “o seu exemplo de fidelidade aos valores da liberdade e da justiça”.

Não deve existir um único cidadão português que se não congratule com a decisão!


Permito-me discordar e, felizmente, já vi que há mais leitores desse blogue com a mesma opinião.


O meu comentário foi este:
Busto de Sophia ( Jardim Botânico do Porto)
Quem conhece o Jardim Botanico do Porto, que Sophia percorreu em menina e adolescente - a Quinta do Campo Alegre com a sua Casa Andresen lindíssima - não a imagina noutro local que não neste. Aqui vem centenas de pessoas só para passear e ver o jardim de Sophia!
Os contos para crianças que escreveu basearam-se nestas referências que vejo amiude, pois o jardim fica em frente da minha casa. No ano passado montaram lá um busto de Sophia, que tenho fotografado, no jardim de flores variadas, lírios , tulipas, gladíolos e rosas. 

Sophia adorava a praia da Granja, onde passava férias e, na minha humilde opinião, deveria ter sido enterrada no Norte de Portugal, donde são originários os seus filhos, se não me engano.

Mas sim, Sophia é universal. E por isso a sua alma já está a milhas dos panteões e dos mosteiros, das campas fechadas, buracos enclausurados, já se libertou há muito desses grilhões.



E aqui fica um poema de Sophia, que, quanto a mim, espelha a sua personalidade



Evadir-me, esquecer-me


Evadir-me, esquecer-me, regressar
à frescura das coisas vegetais,
Ao verde flutuante dos pinhais
Percorridos de seivas virginais
E ao grande vento límpido do mar.







Acham que Sophia ansiava por ficar no Panteão??



9 comentários:

  1. Quando eu morrer voltarei para buscar os instantes que não vivio junto do mar...(inscrição in Mar)
    Creio que o panteão não lhe devolverá esses instantes...
    Ab
    Regina

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  2. É das poetas com que mais me identifico talvez por viver aqui neste local...mas também porque tudo o que ela canta nos seus poemas me penetra fundo...tb adoroo espaço, o céu, a luz, o mar....lembro-me que chorei imenso ao ver a minha mãe ser enterrada na terra....ela que amava a luz, as janelas abertas, a praia....como eu!
    Obrigada! bjo

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  3. Eu acho que a melhor homenagem a Sophia está na divulgação da sua extraordinária obra, promovendo eventos em homenagem à sua pessoa e recordando-a através de atividades vivas. Para quê encerrar o seu corpo num Panteão? Eu também não acredito na vida depois da morte e portanto nunca visito cemitérios porque o que lá está nada significa para mim.

    Um beijo.

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  4. Concordo em absoluto. Penso, aliás, que a divulgação nas escolas ainda é a melhor forma de a homenagear....
    Encntrei um texto sobreo Porto piblicado na revista Leituras que é bem claro sobre o que a apegava a esta cidade.

    Bjo

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  5. A melhor homenagem que podem prestar a Sofia é ler os seus livros. Se a lermos mantêmo-la viva connosco.
    Quem sabe se ela não preferiria regressar aos jardins onde cresceu?
    Quando vou ao Porto não dispenso perder-me nesse jardim, pensar nela. Depois sento-me na cafetaria a beber uma bica. Um local que me traz tranquilidade.

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    1. Concordo contudo, Agostinho e fico feliz de encontrar almas gémeas neste blogue.

      Estoy daqui aolhar a torre da casa Andresen e a pensar quantas vezez a endiabrada sopgia não terá subido lá para daí desfrutar do mar lá longe - , mas perto e respirar os ares que se evolavam de tantas árvores à volta.

      É precisamente a tranquilidade que procuro aqui....
      Bom Domingo!

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  6. Desculpe as gralhas, cada vez me desleixo mais e vejo pior..... :)

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  7. As gralhas também têm direito à existência.
    Boa semana.

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    1. sem dúvida e às vezes até se escrevem coisas egraçadas!!!!

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