Voltei à Baixa para buscar os documentos do IRS, que a minha contabilista Teresa tinha guardado.
Ao receber aquele "espólio" de mais de dez anos de colaboração, senti como é penosa a perda duma pessoa como ela.
Falei longamente com o irmão, meu amigo também, poderíamos ter ficado ali a recordar tempos idos, tempos esquecidos, memórias do trabalho editorial na Porto Editora, o casamento do meu filho que ele fotografou. Conheci-o na PE, era um fotógrafo exímio e uma pessoa muito inteligente com um elevado sentido de humor, que é das coisas que mais aprecio nos homens.
Houve tempos em que as equipas de autores trabalhavam em uníssono com todos os outros elementos: designers, coordenadores, fotógrafos, ilustradores. Até promovíamos jantares todos os anos para festejarmos os bons resultados das adopções. Éramos amigos. Um dia gostava de voltar a reunir todas essas pessoas que contribuíram para o meu/nosso sucesso e que nunca mais esquecerei.
Hoje em dia, tudo é impessoal e extremamente constrangedor, a comunicação faz-se por emails e raros são os encontros. Não sabemos quem é o/a designer, não falamos com quem grava os textos, praticamente não há contacto físico ou visual. Deixou de ser um trabalho entusiasmante...parecemos robots, formatados pela editora segundo padrões muito duvidosos e, usando meios de marketing que ultrapassam tudo o que se possa imaginar...e que eu rejeito liminarmente.

Muitos outros se sucederam, trabalhei em manuais do 5º ao 12º ano durante muitos anos sempre com enorme entusiasmo, mesmo quando o ministério resolvia modificar os programas e tínhamos de cancelar todo o trabalho feito.
Nunca me lembro de estar sem fazer nada, comprava materiais variados, revistas inglesas, CDs de música, livros na Livraria Britânica. lá encontrava tudo o que precisava, não havia internet, essa só apareceu nos anos 90 quando elaborávamos o manual Prime Time 12, que também obteve enorme sucesso. Na altura, não sabíamos as percentagens de adopções, nada nos era revelado, só sabíamos que muitas escolas os usavam. E até familiares e amigos.

Este ano tudo vai terminar, decidi que não farei mais manuais ou algo parecido.
Os métodos da Editora modificaram-se muito, a grande prioridade é o marketing e não os conteúdos. Não me adapto, nem consigo pactuar com certas decisões que só servem para nivelar por baixo e tornar os alunos cada vez menos aptos, mais aculturais.
Também tenho necessidade de tempo e espaço para mim e sobretudo, de não ter que obedecer a prazos.
Preciso de, finalmente, viver a minha VIDA!
Olá Virgínia
ResponderEliminarA sua vida é muito linda, para viver e recordar.
Um abraço.
Sem dúvida, teve momentos altos e gratificantes, mas tb teve alguns que preferia esquecer. De todo, Graciete.
ResponderEliminarJá está melhor da sua constipação malvada? Com esta chuva, não lhe deve apetecer sair....
Hoje vou ter cá o meu pequeno violinista.....é bom!!
Bjinhos
Como é bom cirandar entre os livros! Adoro bibliotecas,livrarias...A minha primeira biblioteca foi a mágica carrinha itinerante! Não tinha janelas, não tinha bancos, mas tinha estantes coloridas de livros! Eu e os outros miúdos esperávamos. Ela parava à beira parque e eu, ansiosa,entrava por trás e feliz, saía pela frente com um braçado de contos de encantar e depois? depois eram tardadas de "sonhos" em cima do tapete. Muito obrigada Sr. Calouste Gulbenkian e também a todos aqueles que com seu trabalho e dedicação nos permitem "sonhar". Beijinhos
ResponderEliminarLembro-me de ver a carrinha em Esposende onde vivi seis meses e também me lembro das crianças que vinham da praia passarem por lá a buscar e a entregar livros que liam em casa. Era uma alegria. Não compreendo os pais que não insistem para que os filhos leiam, é essencial para o futuro. Felizmente os meus netos adoram ler...
ResponderEliminarBjnho