segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

A época do defeso


Depois de ler tanta aberração, tanta contradição e mesmo justificações ridículas em telejornais, nos artigos do jornal ou nas redes sociais sobre o atentado em Paris, soube-me bem hoje entrar na semana com um passeio no Botânico, agora na época de defeso, grande parte vedada ao público, árvores sem folhagem, lagos vazios de nenúfares e papiros.




Por ali passeei uma hora, conversei com uma Avó que tomava conta do seu neto pequenino e contemplei tudo à volta.
Este jardim, mesmo em obras intermináveis . contém sempre algo de mágico, sobretudo quando está sol e  a luz e as sombras jogam às escondidas com os ramos esquálidos dos arbustos, projectando-se nas folhas mortas, nas ervas e trevos que cobrem o solo. Os reflexos na água, que ainda conseguimos fotografar, transmitem-nos imagens estranhas e pouco habituais, mas não menos belos, como se pode ver nestas fotos.

A grande histeria deste fim de semana - desculpem , mas não acredito nos métodos propalados por todas estas sumidades que desfilaram em Paris, nem acredito na boa fé dos milhões que os acompanharam - deixou.me cansada e farta da tão exaltada civilização ocidental. Continua a haver ódio, racismo, discriminação, ignorância cultural...e o insulto gratuito, mesmo em forma de cartoon, não deixa de ser um murro no estômago do adversário. Nada justifica o terrorismo, mas também nada justifica insultar-se durante anos um povo inteiro e as suas crenças, sem utilidade prática, que não vender pasquins.

É um mundo cheio de lodo, onde se torna difícil discernir os bons dos maus.




7 comentários:

  1. Junto-me às suas opiniões sobre CH.. Aquilo que chamam de psicologia de massas é muito perigoso! Num grupo grande alguém começa a desatinar e não tarda nada propaga-se que nem rastilho...Penso que foi mais ou menos o que se passou...
    Todos os dias somos tão bombardeados com coisas más que de duas uma: ou entra nos por um ouvido e sai pelo outro ou fica-se deprimido. Para não entrar em tristezas é fazer como fez, com muita inteligência, sair ao encontro do belo! Hoje fiz o mesmo, depois de uns dias sem sair de casa causado por uma forte constipação...Beijinhos.

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    1. O meu ex-marido costumava dizer que a inteligência das massas é igual à inteligência do cidadão mais estúpido que ela contém.
      É um pouco radical, mas as pessoas em conjunto fazem coisas horrendas e tomam atitudes aberrantes.

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  2. Olá Madalena,

    Tenho tido fortes discussões no FB por causa deste atentado. Acho que fizeram um sururu enorme e que aproveitaram o caso da maneira mais escandalosa possível, juntando montes de gente que não pode falar de liberdade de expressão, pois nos seus países há censura de todo o género. Isso poe-me um bocado nervosa, acho que todos alinham pela mesma bitola, é tudo uma carneirada.... :)
    Sim foi uma sorte não haver um tarado qualquer que resolvesse ir para uma janela alvejar pessoas!!! É demasiada exposição....
    Bjinhos

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    1. Quando vejo muitos corações ao alto fico sempre na desconfiança. Minha mãe transmitiu-me esta forma de ser...Tinha toda a razão !...Aprendi, também, nas redes sociais a não dar muitas opiniões quando está tudo a arder...melhor é no rescaldo. Beijinhos.

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  3. E aqueles que se rogam de ser mais "charlies" que os outros? Uma vergonha. Vejo na expressão "Je suis Charlie" não mais como um manifesto de solidariedade para com as vítimas ante aqueles crimes hediondos, não mais do que isso. Quanto à revista em si, não sendo especialmente do meu humor, caricaturava todos os credos de igual forma, mas a sátira era essencialmente política, ou seja, com políticos, pelo que a representação de Mahomed não chegava a 1% do total dos esquiços. Era ofensivo? Sim, mas nada justifica os crimes. No Ocidente há meios de defesa para quem se sente ofendido, insultado, difamado: a Justiça.

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  4. O teu post é a expressão do bom senso, do equilíbrio que falta a muitas pessoas. Sentem-se ameaçados - e estão-no na realidade - mas não conseguem olhar-se ao espelho e ver que também têm culpa no cartório. Há que tomar medidas, mas essas não passam pelas manifestações, passam pelas políticas de integração, pela mudança de governantes, pela investigação e segurança dos mais vulneráveis. A Europa está mesmo nas mãos de pessoas que só pensam em si, no seu umbigo e na sua História, sem conseguir dar resposta ao inúmeros problemas que existem no seu seio. A Justiça nem sempre consegue discernir onde começa o insulto e a provocação, onde acaba a sátira e a crítica. É muito subjectivo.

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