segunda-feira, 17 de março de 2014

Leeds- a fervilhar

Hoje reparei como Leeds está diferente - para melhor - desde que cá vim pela primeira vez em 2001.

A minha filha tinha 21 anos e escolheu esta cidade para fazer Erasmus, aconselhada pelo meu amigo Alan que adora esta cidade , apesar de ter nascido perto de Manchester. Disse-me que aqui havia muito bom ambiente e a universidade era conhecida pela sua inovação e diversificação.
Quando aqui a deixei ficar, tão jovenzinha, confesso que o meu coração se apertou e chorei ao despedir-me dela às 5 da manhã para apanhar o avião em Bradford. De camisa de noite à janela do Hotel Budapeste, um B&B que ficava em Headingley, parecia uma menininha....e partia-se-me o coração de a deixar, mesmo num lar de meninas.

Muitos anos já passaram e a Vida transformou-se totalmente. A menina cresceu, acabou a licenciatura em 2003, voltou para Leeds e tirou um MA em tradução dois anos mais tarde. Em 2005, adoeceu gravemente, esteve internada aqui e depois passou uns cinco-seis anos no Porto, superando tudo gradualmente com a ajuda da sua médica ( maravilhosa) e o meu amor total.

Mas Leeds continuava nos seus sonhos, era aquele desejo impossível de realizar...


Em 2011, descobriu um outro MA em ensino, que poderia eventualmente interessar. Embora trabalhasse sempre comigo para a PE, a sua vida no Porto foi sempre vazia de amigos, demasiado Zen. Sonhava com outro desafio, algo que a fizesse estudar mais. Tinha 31 anos e a vida toda pela frente. As coisas correram mal, ao fim do segundo ano, quando já estava perto do fim, o stress e a doença voltaram com força, tendo sido internada mais uma vez, com sintomas inquietantes. O SNS tratou dela mais uma vez como só eles sabem tratar. Maravilhosamente.


Em Junho de 2012, voltou para o Porto. A mesma Luisa sorridente e misteriosa, às vezes distante, mas nunca revoltada, companhia sem igual, que eu reaprendi a amar e a apoiar.
Desde então, temos trabalhado juntas nos manuais do 10º e 11º anos. O trabalho preenche-lhe a manhã e traz-lhe compensação material, sem a qual não poderia sobreviver sem o meu apoio financeiro.

Em Setembro deste ano, vai voltar para aqui para fazer um curso de legendagem, sugerida pela sua Amiga Cristina, que já trabalha nisso há muitos anos. Enviaram-lhe os testes da universidade e ela realizou-os com proficiência, sendo elogiada pelos professores, que a dispensaram de dois módulos já feitos no 1º mestrado.
A ideia de voltar tornou-se cada vez mais forte - a médica dela apoia-a, desde que ela esteja com uma "retaguarda" organizada, ou seja apoio do SNS, consultas marcadas e medicamentos à disposição. O meu coração sofre, mas penso que temos de ser fortes e deixá-los voar. Não me confortaria a ideia de que lhe estava a cortar as asas...

Estou aqui no quarto do Radisson hotel já há umas horas. Dormi uma sesta maravilhosa. O hotel é silencioso. Oiço um CD que comprei hoje com Adagios do Barroco p0r 5 libras, edição da Deutsch Gramophone. Os CDs aqui estão ao preço da chuva.....também encontrei os concertos de flauta e oboé de Vivaldi, que são lindíssimos.

Ela foi ter com amigos de longa data, dois rapazes com quem viveu em 2003-4. Não sei se têm alguns projetos para a noite, mas aguardo serenamente. Confio 100% na minha filha.

Entretanto passeei hoje com ela pela cidade e almoçámos no nosso Bella Italia. A cidade está um espanto, cada vez mais viva, mais bonita, mais restaurada, com gente de todos os cantos do mundo, gente feliz ou infeliz que tornam este lugar acolhedor.

Ir a uma loja é ter e certeza de que se é tratado como uma Lady, seja qual for o local. O sorriso aqui é fácil, a vida sedutora....

6 comentários:

  1. Começo por comentar o teu comentário na mensagem, anterior.
    De facto os problemas de saúde que tive, deixaram-me com uma grande astenia. Agora creio que já está tudo O.K. Já recomecei a escrita no blogue.
    Vejo que estão felizes. Desfrutem ao máximo.
    Um beijo grande para as duas

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    1. Ainda bem que não é nada de cuidado. Tens de te poupar, pois trabalhas demais.

      Já vou ver o que escreveste......beijinhos

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  2. Compreendo na perfeição a sua angustia ou as suas inquietudes...como compreendo ! Mas fazer o quê? Cortar as asas aos filhos é muito mau! Até por que, chega um ponto que não temos controlo e só se arranja complicações.
    Se tem 100% confiança na sua menina é uma grande vitória! Para adoecer tanto pode ser longe como perto. E não se pensa nisso que a Luísa vai ter um anjo da guarda que lhe há-de proteger. Interessa é que se sinta feliz esteja onde estiver. Deixe arejar, por mais que lhe custe!...
    Tenho uma filha a viver em Londres, vai para quatro anos.Penso que já lhe disse. Farta-se de viajar.Só este ano não dou com a conta das viagens que fez por diversos países europeus. Isto aí pode não ser um mar de rosas mas é sempre melhor do que em Portugal, especialmente para jovens e para velhos quando estão fartos dos cinzentismos...
    Votos de boa estadia e muitas felicidades! Beijinhos.

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  3. A Luisa tem a noção perfeita da sua doença e toma os medicamentos religiosamente, mas nunca se sabe, dum momento para o outro ´da-se um clique e pode ter uma crise. Dai eu afligir-me tanto.

    O meu filho tambºem viaja muito, neste momento está outra vez nos States. A minha nora é uma grande mUlher.....

    Muito sofremos pelos filhos, mas é a única coisa boa que nós temos....mais os netos!!
    Bjinhos

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  4. Estou feliz com a sua felicidade. Desejo que sempre tudo corra pelo melhor para si e sua filha.
    Um beijo para as duas.

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  5. Se eu impedisse a Luisa de vir para aqui era certo ela deixar de se medicar, entrar em depressão ou pior....não que ela esteja revoltada no Porto, mas quer fazer outras coisas e lá sente sempre o estigma da doença. Ontem esteve seis hora com dois amigos e os olhos luziam-se-lhe. Estava feliz....

    Muito obrigada, Graciete. Talvez vá à Vivacidade no dia 22. Preciso de ver pessoas queridas!! :)

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