segunda-feira, 28 de abril de 2014

Soneto do amor e da morte - VASCO GRAÇA MOURA






soneto do amor e da morte

quando eu morrer murmura esta canção 
que escrevo para ti. quando eu morrer 
fica junto de mim, não queiras ver 
as aves pardas do anoitecer 
a revoar na minha solidão. 

quando eu morrer segura a minha mão, 
põe os olhos nos meus se puder ser, 
se inda neles a luz esmorecer, 
e diz do nosso amor como se não 

tivesse de acabar, sempre a doer, 
sempre a doer de tanta perfeição 
que ao deixar de bater-me o coração 
fique por nós o teu inda a bater, 
quando eu morrer segura a minha mão. 

Vasco Graça Moura, in "Antologia dos Sessenta Anos"


6 comentários:

  1. Perde-se um grande poeta.
    Como pessoa, não nutria por ele grande consideração.A sua última entrevista à Visão reforçou esta minha ideia.
    Ab
    Regina

    ResponderEliminar
  2. Era uma pessoa que vivia noutra era. Muito intransigente e elitista. Mas como homem de letras, não posso deixar de o admirar, tinha uma inteligência acima da média e uma capacidade de trabalho espantosa. O Porto perde um intelectual de primeira água.
    Bjo

    ResponderEliminar
  3. Também o admiro como homem de cultura. escritor, poeta, tradutor. Bastante diversificado mas sempre bom.

    Um beijo.

    ResponderEliminar
  4. Que coincidência publicarmos este lindísimo Soneto ao mesmo tempo, tu aqui e eu no FaceBook!..

    Prova que ambos admirávamos o VGM.

    Politicamente divergíamos em muitos temas mas, no que diz respeito às Letras, e à sua intransigente defesa da verdadeira Língua Portuguesa e não a de um Acordo patético, admirava-o quse sem restrições.

    Pena que os Portuguese deste calibre vão rareando a uma velocidade assustadora, e não se vislumbrem 'substitutos' do mesmo nível intelectual.

    ResponderEliminar
  5. Olá, Mano

    Realmente é interessante esta coincidência, mas gosto muito que estejamos em uníssono. Vasco Graça Moura era único, embora tenha conhecidos várias pessoas parecidas na FLUL: João Flor, o meu mentor, Yvette Centeno, minha porfessora, Vitorino Nemésio, etc. Duvido é que vão surgir muitos mais, dado que as Humanidades estão pela hora da morte e o que mais há é escritores de meia-tigela. Todos escrevem, mas a sua escrita é meramente comercial ou desinteressante. E quanto à tradução, não conheço ninguém que se disponha a traduzir clássicos como ele o fez. Até porque não há subsídios e as pessoas não vivem do ar.....nem das letras.
    Sim, ele era muito conservador e intransigente, mas coerente nas suas ideias, que é um traço admirável.

    ResponderEliminar