quinta-feira, 7 de abril de 2016

O abstracto


Pinto tanto abstracto como figurativo, há quem prefira o primeiro, outros o segundo.
Em matéria de fotografia, o mesmo se passa. Embora não goste de usar photoshop e outros meios sofisticados para modificar as fotos, uso muito o corte, a sintonização, o aquecimento das cores, a colagem e outros processos.

Há no FB um site chamado Abstract Photography para o qual já enviei várias fotos que considero estranhas, mas belas, muito semelhantes a quadros.

Estão aqui alguns exemplos extraídos de fotos do Botânico. Os reflexos na água tomam formas caprichosas e muitíssimo sugestivas.








Junto um poema de Álvaro de Campos que liga bem com esta noção de abstracto:

Não, não é cansaço... 
É uma quantidade de desilusão 
Que se me entranha na espécie de pensar, 
E um domingo às avessas 
Do sentimento, 
Um feriado passado no abismo... 


Não, cansaço não é... 

É eu estar existindo 
E também o mundo, 
Com tudo aquilo que contém, 
Como tudo aquilo que nele se desdobra 
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais. 


Não. Cansaço por quê? 

É uma sensação abstrata 
Da vida concreta — 
Qualquer coisa como um grito 
Por dar, 
Qualquer coisa como uma angústia 
Por sofrer, 
Ou por sofrer completamente, 
Ou por sofrer como... 
Sim, ou por sofrer como... 
Isso mesmo, como... 


Como quê?... 

Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço. 


(Ai, cegos que cantam na rua, 

Que formidável realejo 
Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!) 


Porque oiço, vejo. 

Confesso: é cansaço!... 

Álvaro de Campos, in "Poemas" 

6 comentários:

  1. Querida Virginia , não tenho visitado este blog como gostaria. Acontecimentos pessoais andam a consumir as minhas energias habituais...
    Este poema atingiu-me como uma flecha e as suas fotos mostram-me uma beleza imensa!
    Beijinhos.

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  2. Realmente tenho sentido muito a sua falta. Pena é não vir por andar com problemas. Está aí a Primavera e o seu odor com certeza lha vão trazer de novo a alegria habitual.
    Bjinhos

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  3. Tentador... Quanto ao poema, esse "spleen" vence-se com a criatividade e o "fazer".
    Talvez Pessoa preferisse a poesia misturada com absinto, outros a música, a pintura ou passear o cão... mas há tanta coisa bela à nossa volta que podemos considerar-nos seres privilegiados.

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    1. Sem dúvida, quanto mais coisas crio, mais feliz me sinto.
      Tu sabes ainda melhor o que isso é.
      Bjinho

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  4. Gostei muito das imagens e não conhecia o poema, obrigada pela partilha e assim ficar a conhecer. Pelas fotografias que encontro aqui, comecei a tentar fotografar mais os reflexos na água.
    um beijinho e um bom final de Domingo
    Gábi

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  5. É bom saber que inspiramos outros a criar também algo de belo. Tente usar o zoom!
    Bjinho

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