domingo, 25 de junho de 2023

O domingo

 Sempre detestei os domingos. Mesmo quando era o unico dia sem aulas, pois o sabado nao era sagrado, como agora. Tinhamos aulas das 8.30 ate a 1.15. A tarde é  que era para diversao, o periodo mais querido do fim de semana. A noite íamos ao cinema ou a uma discoteca quando calhava o namorado estar em Lisboa o que era raro.



O domingo era dia de missa. Eu era muito  crente e ia aos Jerónimos, a minha igreja paroquial com os meus irmãos e amigos. Depois, as vezes iamos comer um pastel de Belem. Conversavamos muito. Tinhamos um grupo fixe do qual ja morreram os meus dois irmaos mais velhos, o meu cunhado e outros amigos. Impressiona me pensar nisso.  Ja estamos na ultima fase das nossas vidas, que foram cheias de peripecias e tambem de afectos com pais tradicionais, solidariedade, amizade, algumas quezilias normais e distanciamento progressivo. Durante anos vivi no meu casulo do norte, sem falar quase com os meus irmãos. Nao havia telemoveis, nem net, nem sequer telefone as vezes. Era tudo por carta. Ainda conservo as dos meus pais e amigos.


Trabalhei sempre muito ao domingo, a ver testes, a fazer os meus manuais  da PE, a preparar aulas complicadissimas com videos e musica. Passava horas a ver cenas de fimes que os meus filhos ja sabiam de cor. Muito sucesso tiveram essas aulas nos anos em que orientei estagio. Desasseis anos quase seguidos. 

O domingo nunca foi dia de lazer, so iamos almocar fora, pois o meu ex marido gostava de fazer uma petiscaria no Barao ou na Abadia. Eu descansava dos cozinhados.

Nunca passeavamos, era raro sair. As vezes levava os meninos a Rotunda da Boavista para correrem e saltarem. Mas era muito cansativo com tres criancas. O meu marido nunca queria leva -los a passear, achava que eles se portavam mal e tinha de visitar a Mãe, que era mais importante do que tudo.



Hoje fui ao Botânico  e pensei como teria sido feliz a viver aqui no Campo Alegre durante todos esses anos. Os miudos poderiam saltar a vontade, jogar no patio, como jogam agora, ir a Foz de autocarro, ao Cidade do Porto ou ao Bessa.. 



Senti me nostalgica e com pena de mim propria. Tive uma vida dificil demais. Trabalhei muito para poder alcancar a independência.

 Felizmente consegui nestes vinte anos gozar de alguma paz e pensar em mim e naquilo que sou e quero ser. Nunca acreditei muito no futuro, aceitava o que vinha de bom, dava aos meus filhos tudo o que me parecia razoável. Eles conseguiram um futuro melhor graças a Educação que receberam no Colégio Alemão e em casa.



Só agora reflicto com tempo na minha própria vida. Que não sei quanto durará. Os netos já estão crescidos e emancipados. 

Nao sei o que ainda esta para vir


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2 comentários:

  1. Agora vêm os bisnetos! Lembro-me de ter ido almoçar ao Abadia com os meus pais e as minhas irmãs há muitos anos e aos Domingos, talvez nos tenhamos cruzado então.
    um beijinho e uma boa semana

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