sábado, 22 de março de 2014

A Primavera chegou


sem ruído, com um ventinho gélido, sol enganador, ela aí está no jardim das maravilhas, que vejo daqui da minha janela da sala. Está uma luz estranha, rolos de nuvens negras acumulam-se no céu, prometendo uma noite de chuva.
Uma gaivota passou agora rente à Casa Andresen, como que a fugir do mau tempo. O vento parou. As nuvens mais baixas ficam douradas ao sol poente.

Hoje voltei ao Botânico. Já lá não ia há umas semanas. Uma parte está agora vedada ao público, o que torna o espaço mais reduzido. O café japonês fechou até Outubro. É preciso reparar as estufas e revitalizar uma parte deste espólio precioso. Mas custa muito, nesta época do ano, não poder percorrer as áleas todas...ver as folhinhas a nascer, o jacarandá florido! Cortaram as glicíneas quase todas e já não se veem as grinaldas arroxeadas, tão leves quanto os brincos duma princesa asiática, que adornavam as colunas de pedra e o banco de azulejos.

As camélias estavam lindas, mas, como sempre, havia mais flores pelo chão do que nas árvores. Enquanto vivas, uma perfeição. Depois de mortas , atapetam os caminhos para a noiva passar!

Fui ao meu local de eleição....sim, esse mesmo, o lago dos nenúfares. Ali estive sentada durante tempos infindos pois os ossos continuam a doer até dizer basta e não me permitem grandes veleidades
Esta união com as plantas e as árvores de grande porte - hoje não se ouviam os pássaros - enche-me de paz melancólica. Compreendo os artistas românticos e impressionistas que consideravam o contacto com a natureza algo de divino e pintavam o que viam, ou melhor, o que sentiam.

Transcrevo aqui umas frases do livro que comprei em Leeds sobre Van Gogh "Vincent's Trees". Estou a lê-lo aos poucos e cada vez me identifico mais com este pintor, cujas cartas ao irmão Theo se podem ler na íntegra na Internet.
Em dez anos, produziu uma obra admirável, quadros que nos deixam sem fala. Muitos deles , cerca de 45% retratam árvores e mesmo quando pinta figuras humanas, baseia-se em troncos, raízes, ramos esguios e ondulados. A Natureza em Van Gogh é algo de esplendoroso, é um hino ao Criador. Não se compreende o seu sentimento permanente de perda e pouca auto-estima..

Nature for Vincent, possessed a strong, emotional significance, he singled out trees as having a particular dynamic force and spiritual essence- an "expressions and a soul". "What I think is the best life, oh without even the slightest shadow of doubt, is a life made up of long years of being in touch with nature out of doors".








4 comentários:

  1. Lindas fotos, mãezinha, artísticas, como sempre. Vou ver as de Leeds! Beijinhos! :-D

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    1. A Natureza é assim....não são as máquinas, nem os fotoshops que fazem estas maravilhas....o que é preciso é observar, ver, sentir a beleza que nos rodeia....mas isso já tu sabes bem demais :)))

      Bjinho

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  2. A natureza é para ver e sentir. Que maravilha passear num campo atapetado de florinhas e com um Sol quentinho a acariciar-nos.
    Mas as fotografias e a descrição também nos enchem de amor e conforto perante as maravilhas da Natureza.. E como a Virgínia usa bem essas duas ferramentas!!!!

    Um beijo.

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  3. Ando fascinada pela fotografia. Dá-me um prazer excepcional usar a minha Lumix - que foi barata e não é nenhuma camara mágica - para congelar na memória as sensações por que passei. Amo cada pedacinho de Natureza que consigo vislumbrar no meu dia a dia - infelizmente cada vez menos devido à minha incapacidade em andar a pé. Pena o tempo não estar mais ameno e quente. Ontem fui jantar fora com os meus dois filhos mais novos e adorei estar com eles. Mesmo por pouco tempo.
    Bom Domingo, Graciete. Obrigada!

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