domingo, 30 de março de 2014

Nebraska - black & white



É um filme simples dum realizador americano que já deu provas mais do que suficientes. Nos seus filmes  mais populares como As Confissões de Schmidt, Os Descendentes ou Sideways, consegue retratar fielmente as difíceis relações humanas - familiares e não só - dum modo equilibrado, sensível, racional e emotivo.
Este filme parece antigo, out of date no tempo e no espaço, talvez devido ao uso do preto e branco, pouco luminoso, das panorâmicas vastas numa paisagem hostil, sem grandes atractivos, a não ser as estradas rectas sem fim que levam os carros dali para fora.
Por este filme se pode ver a importância que o automóvel tem na América profunda, onde as gentes nascem, vivem e morrem sem ter contacto com a civilização - ou aquilo que se considera como tal - em terras remotas, despovoadas e sem qualquer espécie de futuro.


A família existe para o melhor e para o pior nos filmes de Alexander Payne. Há disfunções , atitudes mesquinhas, invejas, rancores, manipulação...mas também há, subliminarmente, laivos de ternura para compensar os tons negativos que coloram as acções humanas. A família alargada é quase sempre cinzenta ou mesmo negra, a família nuclear, por contraste,  um ancoradouro onde é possível a paz e a redenção.

As interpretações - candidatas a dois óscares e ganhadoras dum prémio (de melhor actor para Bruce Dern) no Festival de Cannes - são convincentes, exímias tanto nas cenas de comédia como nas mais dramáticas. As segundas figuras apagam-se um pouco para as fazer brilhar, mas acabam por ser elas próprias os alicerces duma história credível e gratificante.

Não aconselho este filme a todos....embora no site Rotten Tomatoes ( o mais credenciado dos EU) lhe dêem 86% em 100..
Sei de muita gente que achará o filme "uma seca". Mas é um filme singular, tocante e profundo. Um filme que fica na retina e que nos fala dos grandes dramas que assolam orincipalmente os idosos deste mundo.

O filme leva-nos à conclusão de que nenhuma terra, seja ela qual for,  é... para velhos. 

6 comentários:

  1. Sublime a sua análise! O filme é comovente, mas o seu resumo também o é !.Só de almas sensíveis e observadoras poderão sentir o que a mensagem do filme transmite.
    Beijinhos, Virgínia. Tenha uma boa semana.

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  2. Obrigada, Madalena.
    Na realidade, a minha sogra passou exactamente por esta situação, recebeu um telefonema e pensou que tinha ganho um prémio quando aquilo eras apenas um chamariz para venderem apartamentos. O meu ex- e eu fomos a uma casa, onde havia dezenas de pessoas a reclamar prémios, um verdadeiro embuste, só de me lembrar fico embaraçada.
    Faz-me muita impressão ver filmes com velhos hoje em dia e tenho visto alguns interessantes nestes últimos tempos. Envelhecer é algo que me toca fundo, talvez porque tive uma avó que faleceu aos 94 e uma sogra aos 95. Acompanhei ambas as velhices e sei que é doloroso ficar-se dependente depois duma vida activa de grande utilidade para os outros. Não é o caso deste filme, em que o velho é um pouco despassarado e bebedolas...
    Analiso-o do ponto de vista do enredo e da estética, mas nunca conto a história....

    Boa semana e muita vitalidade. Quando é que vem ao Porto? Gostava mesmo de a conhecer. Pense nisso!!

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    1. Ando alinhavar uma ida ao Porto no final da Primavera ou começo do Verão. Tenho uma amiga que manifesta a vontade de ir aí. É mais velha do que eu 10 anos mas é uma boa companhia para passear . Tenho outras, são todas mais velhas, mas estão sempre pondo entraves. Nem sempre o meu marido me pode acompanhar... ou porque não lhe apetece ou não lhe é possível. Ainda não se reformou e por isso não tem muita mobilidade para ir em qualquer altura. Para certas viagens, um pouco fora de portas. prefiro ir acompanhada. Com certeza lhe direi quando for. Faço gosto em conhecê-la!
      A velhice em si não me assusta. talvez por ter crescido no meio de gente muito mais velha. A minha avó materna tinha 73 anos quando nasci . À época a esperança de vida era bem menor e com esta idade estava nos limites. Morreu com 89 anos. O que me assusta no fim da vida são as incapacidades mentais e físicas. Principalmente as que nos tornam dependentes. Para mim é um assustador. Evito pensar no assunto para não me entristecer. rsrsrsrsr...

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    2. O meu problema é não poder acompanhar as pessoas que cá vêm, andando a pé durante muito tempo. Mas poderíamos estar aqui no Botanico ou na Baixa ou na Foz a conversar um pouco. E de taxi vou a qq lugar :)
      Bjinhos

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  3. Não vi o filme mas, pelo seu comentário, acho-o digno de ser visto e apreciado. As imagens que apresenta mostram bem a justeza da sua apreciação. O que eu acho é que este Mundo devia ser para todos. Velhos, jovens, de qualquer idade. Recursos existem mas falta o bom senso, o sentido de justiça e sobra a ganância e a ambição. Hoje é muito triste ser velho, mas os jovens, os mais privilegiados, vivem numa espécie de euforia do "depois logo se vê" e os outros, com a angústia da falta de esperança vão
    aproveitando, da pior maneira, aquilo que vai aparecendo, transformando-se muitas vezes em delinquentes dentro de uma sociedade
    corrupta. Não é que não aconteça também aos primeiros, mas esses têm mais defesas. E há ainda os pais dos jovens. Mas isso já é demasiado para o meu estado de espírito, consequência desta constipação que não passa.
    Ainda bem que, para amenizar este sentimento de angústia em que me ando a afundar, há quem possa ultrapassar os problemas que dominam este Mundo, embora os sintam.
    Um beijo.

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  4. Espero que a constipação seja sanada brevemente e que a Graciete possa aproveitar os "sorrisos" tímidos da Primavera que já anda por aí. As árvores aqui à minha volta estão todas em botão ou já com folhas. dum momento para o outro a paisagem modificou totalmente e prevalece o verde claro, que rejuvenesce aqui todo o Campo Alegre ( nome bem sugestivo).
    Este filme também se vê bem em DVD....
    Bjinho

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