quinta-feira, 19 de março de 2015

O Dia do meu Pai


Foi sempre em Março, mas não neste dia, era no dia 8, como já fiz aqui menção, o dia dos seus anos; havia sempre festa na minha grande casa.

Hoje, para pensar nele e no que a memória dele me deixou, dei um longo passeio pelo Botânico, onde já não ia há duas semanas.

O inverno que se prolonga, as obras que nunca mais acabam e um certo medo de depressão têm-me afastado do jardim mais meu, que nenhum outro.

O meu Pai adoraria ter um jardim assim junto à casa para passear na sua velhice, mas infelizmente morreu aos 68 anos.
A nossa casa no Restelo tinha um jardim lindo, onde passei 20 anos da minha vida dos 5 aos 25.
Com ele aprendi os nomes de flores, árvores, frutos e até alguma metereologia, que ele apreciava especialmente. Quando vinha cansado do consultório, passeava por algum tempo pelo jardim, observava as flores, cortava algumas, verificava se estavam a crescer devidamente e sobretudo, contemplava-as com amor. Aprendi com ele a amar a Natureza em geral e com a minha Mãe a amar o Mar, acima de tudo o mais.


Está um dia lindo, daqueles que após a chuva trazem o sol límpido, o céu mais azul que nunca com umas nuvens passageiras de tons arroxeados. A paisagem não podia estar mais lavada e as plantas mais verdes.

Já há flores, mas ainda não há nenúfares, só folhas que lentamente saem da letargia e assomam prateadas à superfície da água.  Os troncos ainda despidos e esquálidos reflectem-se nos lagos e erguem-se para o céu. Os contraluzes são o cenário mais vulgar a esta hora do dia, o sol é forte e, sentarmo-nos num banco de pedra a olhar em volta torna-se uma espécie de ritual - uma celebração - à Natureza espontânea e bela.

Continuo a ler o Diário de Anne Frank e algumas passagens trazem-me lágrimas aos olhos porque se identificam com os meus sentimentos em momentos de tristeza e nostalgia.

Hoje li uma passagem especialmente comovente, que traduzo do inglês aqui à minha maneira:

Esta manhã, quando me sentava em frente da janela, olhando longamente lá para fora, para Deus e para a Natureza, sentia-me feliz, simplesmente feliz. Enquanto as pessoas sentirem esta espécie de felicidade em si mesmas, a alegria da Natureza, a saúde e ainda muito mais,  serão sempre capazes de recuperar a felicidade... pode-se perder riquezas, prestígio, tudo; mas, enquanto se puder olhar sem medo para o céu,  a felicidade permanece dentro de nós.



Sábias palavras duma jovem de 14 anos que se mantinha pura numa clausura que muitos adultos considerariam insuportável.





6 comentários:

  1. Virginia, que lindo texto e que lindas fotos. Uma bonita homenagem que presta ao seu pai e um texto inspirador que descreve a natureza e o céu com o olhar que o seu pai lhe ensinou a ter. A celebração da natureza e da vida. E, sobretudo, a felicidade de podermos olhar o céu sem medo.
    Um beijinho

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    1. Muito obrigada.
      Este jardim inspira-me. É o meu porto de abrigo em dias de sol!
      Bjinho

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  2. LIndo texto, com muita nostalgia... mas de facto aprendemos com eles a adorar a Natureza e a bastarmo-nos com ela (veja-se o gosto pela fotografia e pelos passeios...).
    Quanto a Anne Frank, vi na semana passada um excelente documentário sobre ela, relativamente aos seus últimos dias, com depoimentos de colegas de escola e de campo de concentração. Como é que há gente que vai a Auschwitz e tira selfies a rir às gargalhadas? É a banalização do horror e do Mal! Pus o "Diário" na lista dos "obrigatórios", na estante da FNAC. Bjs e parabéns pelo texto

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    1. Também vi esse documentário e foi por isso que resolvi ler outra vez o Diário no Kindle. Estou a apreciar ainda mais a sua escrita e maturidade.
      Quanto aos Pais, penso que herdei de ambos o amor pela Vida em comunhão com a Natureza. A fotografia, essa é agora a minha grande paixão a par da música. Hoje dediquei-me aos concertos do Pavarotti & Friends. Lembraram-me a Mãe e o seu amor pela ópera....
      Obrigada pelo comentário, que já tardava!! :)

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  3. Uma entrada muito bonita que em tudo homenageia o vosso Pai, uma pessoa ímpar, ávida pelo Conhecimento. Excelentes fotos.
    Aceite um beijinho meu.

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  4. Obrigada , Paulo, penso mais vezes nele do que seria desejável, dado que fico mesmo nostálgica. Estou sozinha, sem filhos e netos, o que me obriga a recorrer a outros meios para não esmorecer. Já só faltam tres meses para estarmos todos juntos na Luz, se Deus quiser. Este ano vou por três semanas em Junho-Julho. Aceito o beijinho e retribuo com votos de bom fim de semana!

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