domingo, 10 de fevereiro de 2019

Manhã de domingo

Dantes detestava os domingos.

Talvez por que me obrigava a ir à Missa com a família, ainda que fosse crente. A caminhada para os Jerónimos, a cerimónia, os cânticos, anos e anos de rotina sempre igual, marcaram-me muito pela negativa e depois de casar com um anti-clerical ferrenho, abandonei por completo a minha militância.



Já nem sei em que acredito, não é certamente na Igreja Católica e nos seus faustos pomposos, que abomino. Também não é  nas cliques sociais de gente bem, com quem sempre convivi na minha adolescência, pessoas que consideravam a caridade como algo que aliviava a consciência e ajudava os mais carenciados, mantendo o seu status e privilégios. Se não tivesse filhos e netos, dedicava grande parte daquilo que possuo a causas humanitárias. Faço o que posso, mas tenho sempre que contar com a doença da minha filha e com o futuro dos meus. Isso coíbe-me de fazer mais.

Não consigo compreender o que faz as pessoas dizerem que acreditar em Deus dá um sentido à vida, como ainda há dias li no FB.

Onde está o sentido da vida,  se Deus permite todas as catástrofes e dramas que acontecem todos os dias em qualquer lugar do mundo?
Que sentido tem  corruptos , ladrões,  ricos e abastados viverem uma vida de nababos e de luxo quando 2/3 da humanidade sofrem as agruras da pobreza, da fome, da guerra e da injustiça?
Que Deus é este que permite tudo isto?

Penso como Sartre que o Homem é responsável por tudo o que faz:

Man is condemned to be free; because once thrown into the world, he is responsible for everything he does.

Acredito na Natureza. Cada vez mais e só peço que a conservem para que possamos sempre disfrutar da sua beleza e paz.  É a única riqueza que ambiciono. Mas exijo-a. Sem ela não posso viver. Não passa uma semana sem ver o mar. Tenho a sorte de o ter a 15 minutos de casa. O autocarro já me conhece!!


Hoje fui à Foz sozinha, pois os meus filhos iam ao Bessa ver o Boavista-Santa Clara. Pôs-se um dia de sol, tudo contrário ao que dizia o Yahoo weather que deva chuva para o Porto. Não caíu um pingo que que eu desse por isso, pelo contrario o céu está azul...



Na esplanada estava frio, mas o sol era quentinho. Comi um cachorro e bebi umas pedras de limão. Não tinha grande fome.


Depois fui ao Pingo Doce comprar ameijoas, pois quero fazer umas à bulhão pato, que ficam boas, em geral. Estava vazio, como eu gosto.

Vim de taxi, o autocarro esteve 3/4 horas sem vir e já estava cansada de esperar...sabe-me sempre bem vir para casa, deitar-me um pouco e respirar. 

10 comentários:

  1. Eu tenho às vezes a esperança que possa haver um sentido e um reencontro e que haja uma explicação, o tal sentido para tudo de tão errado que acontece, mas que esteja para além do que sei agora, do que alcanço, como quando era criança e havia muito que só depois percebi, quando não tenho essa esperança fico muito para baixo
    um beijinho e um resto de um bom Domingo

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    1. Benvinda, Gabi. Já há muito que não falávamos :). Culpa minha!!
      Sim, em criança há coisa inexplicáveis que aceitamos, mas em adultos custa mais. Acho que muito do mal do mundo é culpa dos homens, fora as catástrofes naturais. Os homens não sabem dispor do que lhes é dado e são ambiciosos demais. É dificil viver sem acreditar....

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  2. Sabe, Virgínia quando comecei a ler este post senti calor na minha face porque me dá agonias o tema . Não gosto nem nunca gostei dos Domingos. Não sei explicar as razões. Talvez seja mesmo porque também tinha de cumprir as idas à missa dominical, catequese. Enfim! Também os meus primeiros anos escolares não gostei e o Domingo era véspera de novo suplicio. Quanto ao sentido da vida: ainda estou para saber o que é. Às vezes penso que ando no limbo. Tenho imensa dificuldade em acreditar em algo que não entenda. Bom, acho que acredito na Ciência...

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    1. Alegro os meus domingos indo à Foz. É quase um ritual...uma missa....quando está bom tempo sinto-me bem, há pessoas, sol, bom ambiente... Vivo o dia a dia sem pensar muito no Além...acredito que tenho mais uns vinte anos para viver no máximo e quero que sejam bons. Bjinho.

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  3. Antes de mais, bem vinda, neste teu regresso ao blogue. Lamento a recaída da tua filha mas estou certa que, tal como já aconteceu, com ajuda média e o teu apoio incondicional, vai vencer mais uma crise.
    Talvez nunca tenha estado tão de acordo contigo, como hoje ao ler a tua mensagem.
    "Onde está o sentido da vida, se Deus permite todas as catástrofes e dramas que acontecem todos os dias em qualquer lugar do mundo?
    Que sentido tem corruptos , ladrões, ricos e abastados viverem uma vida de nababos e de luxo quando 2/3 da humanidade sofrem as agruras da pobreza, da fome, da guerra e da injustiça?"
    Logo à partida, como pode existir um ser tão discriminatório que "destina" que umas crianças nasçam no Iémen, na Síria, .... (onde não existe o mínimo respeito pelas pessoas em geral e pelas crianças em particular) e outras nasçam em países como a Finlândia, a Dinamarca .... e até Portugal, onde esses direitos, nem sempre respeitados, estão consignados na lei?
    Ab
    Regina

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    1. Depois de ler o que escreveste no teu blogue, sei que pensas como eu. Talvez não sejas tão nihilista, mas és incrédula como todos os cientistas que se prezam. Encontrei aqui no blogue uma poema que me fizeste há uns anos e que adorei. Não sei onde está agora, mas vou colocá-lo de novo. O blogue tem outros horizontes e estou muito cansada do FB, onde escrevo várias vezes ao dia. A minha filha está bem neste momento. Oxalá continue. E tu, os teus ossos? Nunca mais nos encontrámos, às vezes tenho saudades da Utopia... Beijinho.

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  4. Um passeio até à Foz é sempre algo que faz muito bem (a quem gosta, é claro).
    Adoro a cidade do Porto, também gosto muito da Foz...
    É bom estar por ali, fechar os olhos, sentir os aromas que vêm do mar, captar belas imagens... Enfim..., é sempre um bom programa para uma manhã de domingo soalheira.
    AG

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    1. É sim, senhor....mesmo muito bom....

      para mim um ritual...

      Venha sempre.

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  5. Pois é, Mana. Tanta coisa para comentar. O primeiro comentário, que me apraz muito fazer, é "welcome back"... e agora não fujas...
    Quanto ao tema, também não acredito num Deus, mas num sentido cósmico, isso sim. Não posso aceitar que toda a luta terrena e o pavio curto que leva a uma finitude tão rápida da vida, perante a beleza incomensurável do Universo e do Conhecimento, não tenham um qualquer sentido. Como cientista, acredito na fisiologia das coisas e das pessoas, mas o Cosmos terá, certamente, algo reservado para nós, nós que explodiremos em milhões de partículas que se espalharão por aí, em múltiplas formas de vida que, por sua vez, contemplarão outras tantas coisas belas e terão, eventualmente, as mesmas cogitações e dúvidas, como escreveu tão bem Antonio Tabucchi. Quanto às Igrejas, não me revejo em nenhuma, e estou ao seu lado na condenação das desigualdades que fazem com que 1% das pessoas tenham mais do que as outras 99% todas juntas - morrerão com o caixão atafulhado de milhões, mas duvido que lhes sirva para alguma coisa - entretanto, exploraram seres humanos em condições indignas - vale a pena ler o artigo da Clara Ferreira Alves no Expresso de há dois dias. Enfim... sou cientista, acima de tudo, mas também ser humano frágil que gostaria de ver "um pouco mais além"... entretanto, vou degustando o presente e o Belo. Beijinhos
    Mim

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    1. Como sempre na tua prosa uma galáxia de sentimentos que explodiram em mim ao ler-te. Porque Tu és Tu como dizem os Calema ( conheces? Vale a pena). Obrigada por esta explicação mais própria dum Carl Sagan do que dum mano meu. Eu acredito que nos iremos encontrar num estratosfera qualquer. Para já, tenho pena de ver os anos a passar sem estarmos mais tempo um com o outro...mas o blogue existe e vai continuar. Vivi toda a vida longe das pessoas que mais amava...é o Karma! Beijinhos.

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