segunda-feira, 17 de junho de 2013

O professor, esse "animal" desconhecido

Tenho andado a reler um livro que em tempos comprei na Gare do Oriente, enquanto esperava pelo Alfa para o Porto naquelas idas e vindas relâmpago, em que mal saía da estação. Havia lá uma feira do livro permanente com uma escolha fantástica. Desde divulgação, viagens,  romances, livros para crianças, gastronomia, histórias, etc.

Encontrei lá uma vez este livro autobiográfico de Frank McCourt, o mesmo autor que ganhou o Prémio Pulitzer com "Angela's Ashes" - As Cinzas de Ângela - transformado depois em filme  candidato a óscares.



O autor, irlandês de origem, emigrado para os EU, foi professor de Inglês em várias escolas públicas e descreve neste livro o seu percurso atribulado com um sentido de humor impagável e uma escrita que prende os leitores da primeira à última linha.

Já escrevi no meu antigo blogue sobre ele, mas não resisto a transcrever umas linhas, agora que falar de professores está na moda e que todos - mesmo os que nunca deram uma aula na vida, nem sonham o que isso é ( eles não sabem, nem sonham, dizia o Gedeão) - botam a sua opinião, na mais das vezes ignorante, altiva e mesmo desprezível, sobre o estado a que a escola chegou.

Esta passagem é única:

" Em vez de ensinar , eu contava histórias.
Qualquer coisa que os mantivesse calados e nos lugares.
Eles pensavam que eu estava a ensinar.
Mas estava a aprender.
E tinha a lata de dizer que era professor?
Eu não dizia que era professor. Era mais do que professor.. E menos. Numa sala de aula dum liceu o professor é ao mesmo tempo um sargento instrutor, um rabi, um ombro amigo, um disciplinador, um cantor, um erudito de baixo nível, um funcionário administrativo, um árbitro, um palhaço, um conselheiro, um controlador de vestimentas, um maestro, um defensor, um filósofo, um colaborador, um dançarino de sapateado, um politico, um terapeuta, um louco, um polícia de trânsito, um padre, um pai-mãe-irmão-irmã-tio-tia, um contabilista, u crítico, um psicólogo, o último reduto."

É mesmo. Só os doutos comentadores/bloguistas é que não sabem.


2 comentários:


  1. Obrigada por este texto fantástico.
    Infelizmente toda a gente opina sobre educação e assim surgem as mauiores aleivosias. Ainda há pouco li, em De Rerum Natura (um blogue de que gosto) um texto idiota de um qualquer gestor que, de educação nada percebe. Podes lê-lo bem como um comentário meu, no site indicado abaixo
    Este descalabro, esta queda vertiginosa iniciada por MLrodrigues e continuada por NCrato(que grande decepção foi para mim este ministro) vai deixar mazelas dificilmente reparáveis
    Ab
    Regina.
    http://dererummundi.blogspot.pt/2013/06/os-activos-de-uma-greve-de-professores.html?showComment=1371546429453

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  2. Ja li esse e outros textos igualmente decpcionantes - como o de MSTavares no Expresso - sobre a classe que quer manter os seus privilégios- quais, diria? - e que se recusa a sacrifícios, como se alguma vez a vida de professor tivesse sidoinvejada por aqueles que o não são. Pergunto-me se esse gestor ou todos estes bloguistas que me arrepiam com a sua má fé e no conforto dos seus tachos, seriam capazes de passar um mês a ensinar nas nosssas escolas os nossos alunos. Falo de Portugal, das escolas portuguesas, do nosso sistema. A única coisa que nos restava era a segurança e mesmo essa desapareceu.

    Também há artigos escritos por alunos bem mais inteligentes dos que citaste. Infelizmente a razia irá para a frente e não haverá professores para aguentar este estado de sítio. O Ministério sabe disto.

    Obrigada Regina, o teu testemunho é muito válido, foste sempre uma professora admrável - ainda o és, mesmo sem receber nada em troca.

    Bjo grande

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