Cansada de tanta polémica, indignada pela cegueira de algumas pessoas que ignoram por completo o que é a vida dum professor, resolvi ir espairecer para o meu lugar favorito. Lá meditei sobre o que foi a minha vida dedicada ao ensino, enquanto tirava fotografias de mais algumas flores, na certeza de que essas estão em uníssono comigo.
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Quando comecei, era relativamente fácil entrar no mercado de trabalho. Mal me licenciei, concorri tanto para o estágio como para professora eventual e arranjei colocação em dois liceus de Lisboa, qual deles o melhor. Optei por fazer o estágio no Pedro Nunes, pois o meu irmão mais novo andava lá no antigo 7º ano e teria a companhia e apoio moral dele, já que eu com 24 anos era a mais novinha do grupo; os meus colegas eram todos dez anos mais velhos com longa experiência no ensino. Sofri bastante e quando o ano terminou, jurei que não aguentaria ser professora por mais do que cinco anos....como estava errada!
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Segui daí para o Liceu MªAmália, onde ensinei durante três anos - mais alemão do que inglês ( no tempo em que havia alunos de alemão!!) e onde vivi o 25 de Abril. No ano quente de 74-75, fiz parte da Comissão de Gestão - cinco colegas de quadrantes políticos diferentes - que foi eleita pela escola de entre três num clima de turbulência indescritível.
Em 1975 parti para a Beira Baixa, onde comecei o meu périplo pelo país. Só em 1979 vim para o Porto, onde já era efectiva no Liceu Carolina Michaelis, uma escola muito airosa com pergaminhos e brio.
Aí estive quase trinta anos até 2008. Tive horários dos mais diversos e até ao sábado.
O mais extenuante era dar 5 aulas seguidas das 13.30 até às 18.15 non-stop, pegar nos 3 filhos e vir para casa e tratar deles, praticamente sozinha, até à hora de irem para a cama. No dia seguinte, levantava-me pelas 7 horas para os preparar para o colégio e depois trabalhava na preparação das aulas, via testes, estudava ( nunca deixei de o fazer) ou criava materiais escolares até à hora de almoço. Tudo recomeçava em seguida.
Nos últimos anos cheguei a ter três blocos de 90m seguidos numa manhã, o que era mesmo uma violência. Ninguém - a não ser outros professores - sabe o que isso é.
Uma aula obriga a uma atenção permanente, uma calma imperturbável, um instinto pedagógico, força física e mental, capacidade de diálogo, qualidades histriónicas, amor aos alunos e competência. Não é uma tarefa fácil e quem diz que deveríamos ser avaliados, esquece-se de que temos 100 ou mais alunos a avaliar-nos todos os dias, os pais que observam de longe e só sabem criticar, nunca apoiar. Ainda tive 56 estagiários, que nunca esquecerei e que me avaliaram durante quase vinte anos.
A minha vida foi difícil, mas o caminho a direito, sem precariedade, sem encolhos, com progressão que me estimulava, embora nunca a tenha posto acima da minha actividade pedagógica.
Aposentei-me ao fim de 37 anos, extremamente cansada, já com dificuldade em lidar com alunos mais rebeldes. Entusiasmavam-me as aulas espontâneas e muitas vezes preparava-as ad hoc com materiais da internet, fotocópias tiradas na hora à minha custa, projectos vários, uso de audivisuais de que fui sempre fã. Sempre deixei o suor na sala de aula.
Desde 1982, trabalhei sempre em manuais escolares simultaneamente, o que me fez progredir enormemente em todos os campos.
O meu percurso foi feliz. Mas não foi fácil. Nunca fiz greves, nunca me sindicalizei e nunca facilitei. O meu brio era igual ao da minha escola, uma escola que lutou até à exaustão para não desaparecer do mapa no princípio do século...
Quando comecei, era relativamente fácil entrar no mercado de trabalho. Mal me licenciei, concorri tanto para o estágio como para professora eventual e arranjei colocação em dois liceus de Lisboa, qual deles o melhor. Optei por fazer o estágio no Pedro Nunes, pois o meu irmão mais novo andava lá no antigo 7º ano e teria a companhia e apoio moral dele, já que eu com 24 anos era a mais novinha do grupo; os meus colegas eram todos dez anos mais velhos com longa experiência no ensino. Sofri bastante e quando o ano terminou, jurei que não aguentaria ser professora por mais do que cinco anos....como estava errada!
Segui daí para o Liceu MªAmália, onde ensinei durante três anos - mais alemão do que inglês ( no tempo em que havia alunos de alemão!!) e onde vivi o 25 de Abril. No ano quente de 74-75, fiz parte da Comissão de Gestão - cinco colegas de quadrantes políticos diferentes - que foi eleita pela escola de entre três num clima de turbulência indescritível.
Em 1975 parti para a Beira Baixa, onde comecei o meu périplo pelo país. Só em 1979 vim para o Porto, onde já era efectiva no Liceu Carolina Michaelis, uma escola muito airosa com pergaminhos e brio.
Aí estive quase trinta anos até 2008. Tive horários dos mais diversos e até ao sábado.
O mais extenuante era dar 5 aulas seguidas das 13.30 até às 18.15 non-stop, pegar nos 3 filhos e vir para casa e tratar deles, praticamente sozinha, até à hora de irem para a cama. No dia seguinte, levantava-me pelas 7 horas para os preparar para o colégio e depois trabalhava na preparação das aulas, via testes, estudava ( nunca deixei de o fazer) ou criava materiais escolares até à hora de almoço. Tudo recomeçava em seguida.
Nos últimos anos cheguei a ter três blocos de 90m seguidos numa manhã, o que era mesmo uma violência. Ninguém - a não ser outros professores - sabe o que isso é.
Uma aula obriga a uma atenção permanente, uma calma imperturbável, um instinto pedagógico, força física e mental, capacidade de diálogo, qualidades histriónicas, amor aos alunos e competência. Não é uma tarefa fácil e quem diz que deveríamos ser avaliados, esquece-se de que temos 100 ou mais alunos a avaliar-nos todos os dias, os pais que observam de longe e só sabem criticar, nunca apoiar. Ainda tive 56 estagiários, que nunca esquecerei e que me avaliaram durante quase vinte anos.
A minha vida foi difícil, mas o caminho a direito, sem precariedade, sem encolhos, com progressão que me estimulava, embora nunca a tenha posto acima da minha actividade pedagógica.
Desde 1982, trabalhei sempre em manuais escolares simultaneamente, o que me fez progredir enormemente em todos os campos.
O meu percurso foi feliz. Mas não foi fácil. Nunca fiz greves, nunca me sindicalizei e nunca facilitei. O meu brio era igual ao da minha escola, uma escola que lutou até à exaustão para não desaparecer do mapa no princípio do século...
Sem dúvida uma carreira brilhante! Como diz, e eu não sou professor, é realmente uma profissão muito desgastante e nem sempre apreciada para quem está de fora. O que tinha de bom naqueles tempos, é que o emprego era automático após a licenciatura. Mas bem deveria ter o prémio, após tantos anos esgotantes, sem os cortes "doidos" na reforma...
ResponderEliminarObrigada, Anónimo (?),
ResponderEliminarEste seu post veio dar-me algum ânimo num dia cinzentão aqui no Porto.
Nós tínhamos mais ou menos a certeza de arranjar lugar, mas também nem sempre havia vaga. O meu marido esteve em Esposende e eu no Carolina a 43 kms de distância.
Tive cortes na reforma. Hoje ganho menos 300 euros do que ganhava quando me reformei.
Cumprimentos!