quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Dia Mundial da Música


Disse Nietsche:


Sem Música a vida não teria sentido.

Não sei se isto é verdade para todos os humanos, mas creio que para mim será.

A vida não teria tanta cor, nem tanta beleza, nem contentamento espiritual, nem consolo em horas menos boas...

Tenho passado muitas horas sozinha este ano, sobretudo nestes últimos meses. Habituei-me a pegar no comando e a sintonizar os canais Mezzo ou Brava para ouvir música clássica. É um hábito que me fará falta quando não estiver cá. Tenho meu iPod, mas não é a mesma coisa!

Não sei que idade tinha quando ouvi musica clássica pela primeira vez. Lembro-me do escritório do meu Avô, com um rádio pequeno, donde saíam sons lindos. Lembro-me de me sentar no colo dele e de estar ali aninhada a ouvir, sem fazer mais nada. Parece-me que ainda consigo sentir o cheiro do seu roupão azul escuro aveludado. Nunca teve gira-discos, nem gravador, faleceu precisamente a 1 de Outubro em 1961, sem saber o que era uma cassete, um DVD ou Internet. Mas apreciava a música como se tivesse tido isso tudo. E mais, ensinou-nos a gostar dela também. Foi a dádiva maior que nos deu. God bless him.

O meu Pai percebia bastante de Música sem nunca ter tocado nenhum instrumento. Adorava comprar discos vinil e a nossa discoteca era bastante completa, embora ele não fosse apreciador de música de câmara ou de canto, em especial. Gostava de música orquestral e compositores românticos. Bach, por exemplo, não era muito do seu agrado.

Habituámo-nos a ouvir a minha Mãe a tocar piano depois do almoço, Chopin, Debussy e pouco mais. Deixou de tocar de um momento para o outro, nem sei bem porquê. Todos nós tocávamos piano  e ela cansou-se. Houve uma altura em que relegaram o piano para um quarto no rés do chão que nós chamávamos "quarto das brincadeiras". Dava para o jardim e tinha o ambiente ideal para se tocar descansado.

Nos anos já depois de casada, a música continuou a ser a minha companhia constante. Era raro não ter o giradiscos a tocar enquanto trabalhava, via pontos, preparava aulas ou cozinhava. Dava-me paz.

Também ouvia muita música brasileira e portuguesa na altura, assim como música anglo-saxónica excelente. Ainda hoje oiço alguns desses cantores como Cat Stevens, Joe Dassin, Leonard Cohen, Elton John, etc. com saudade. O meu ex-marido não gostava de música clássica, mas ouvia música ligeira com prazer, sobretudo enquanto jovem. Depois deixou de querer ouvir e irritava-se com os filhos por eles terem sempre música a tocar...

O meu filho João habituou-se deste bem pequenino a ouvir tudo e cantava na varanda da nossa casa de Chaves para as pessoas que falavam com ele da rua. Sempre foi apaixonado pelo piano e flauta e agora, ele e a minha nora acompanham os filhos em festas e concertos.

Ultimamente, não vou a muitos concertos, nem na Casa da Música. Não me contento com quase nada, é raro gostar das interpretações ao vivo e não vibro como dantes. Não me apetece sair à noite. Não me apetece ver gente a ouvir música. Aborrece-me o barulho da sala, a falta de respeito, as palmas fora de sítio, enfim...estou a envelhecer e a ficar anti-social. Acontece.

 Gosto mais de ouvir música aqui na minha sala, sozinha, sem mais ninguém.

Deixo-vos aqui a foto duma partitura que pertenceu à minha Avó. A dedicatória, escrita pelo meu Avô em 1927,  fala por si.


7 comentários:

  1. Para mim também, tia. Nem consigo pensar na minha vida sem música. Não sei quantos anos tinha quando comecei a ouvir música "como gente". Diz o meu Pai que tinha 5 anos quando, pela 1ª vez ouvi uma opera inteira (Rigoletto) sem me mexer do sofá. Desde então sempre me lembro da minha vida com música, fosse ela qual fosse.
    Quando a Mafalda tinha 6 anos começou a ter aulas de piano com o prof. Tadeu, em casa da Avó Gina. Nessa altura ela tocava com frequência. Todos os Domingos iamos lá a casa lanchar e ela presenteava-nos sempre com um mini-concerto, era muito bom ouvi-la tocar :)

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    1. Lembro-me de gravar em cassetes as sonatas completas de Beethoven que tu me emprestaste na Luz. Nunca fui a concertos convosco, pois não havia tantos como hoje, mas deves lembrar-te de ouvir musica na nossa casa do Restelo e na outra. Uma das minhas maiores alegrias é ter transmitido esse gosto aos meus filhos que os passaram aos netos. As festas de família são uma beleza, sempre com música ao vivo. Bjinho especial para o Dioguinho..... :)

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  2. Não é nada estar velha, mas sim ter gosto mais afinado para a música. Aqui em casa, eu mais o meu marido, não temos paciência nem gosto nenhum para a maioria de concertos ao vivo.Só se for numa boa sala onde haja todo o conforto e que valha a pena sair de casa para ouvir música. Só conheço dois lugares nessas condições, em Lisboa: Gulbenkian e CCB. A assistência é muito bem comportada e conhecedora da arte, pelo menos parece... Também é verdade que são quase todas pessoas maduras.
    Já fui a São Carlos , mas achei que o ambiente cheirava a mofo . Para a minha rinite alérgica não é nada bom. (risos)
    A propósito do que escreveu sobre o seu avô, o meu marido está na sala com a neta a ouvir musica clássica... diz que é a Sinfonia Fantástica. Ela tem 6 meses e fica a ouvir com ar muito serio . Agora para rirmos um bocadinho: se puser o Quim Barreiros a cantar ela pula de contente. ..O que será que isto quer dizer? (risos)
    Beijinhos, Virgínia!

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  3. Querida Madalena,

    Foi bom reencontrá-la por aqui e sempre com essa afectividade que me faz querer conhecê-la cada vez mais. Tenho a certeza de que iria adorar estar consigo....e agora quando vejo as imagens do Portinho d'Arrabidana telenovela, lembro-me sempre da margem sul e como gostaria de lá voltar. Pode ser que consiga quando vier dos States. Já vou no dia 11. Nunca fui ao CCB , mas fui muitas vezes à Gulbenkian pois morei dois anos a 5m dela. A Sinfonia Fantástica de Berlioz é ua das minhas favoritas, espectacular....
    Nunca fiquei con netos em casa, sempre achei que já tinha aturado três e que era uma responsabilidade muito grande, até porque o meu neto esteve até aos 15 meses na Alemanha e depois nasceu logo o André, de modo que seriam dois!!! Como moro ao lado deles, quando vêm e ficam, raras vezes dormem. É melhor assim....nunca quis ser Avó a tempo inteiro :)
    Bjinhos

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  4. Eu também desde sempre me habituei a ouvir música. A minha avó era apaixonada por ópera. Eu e os meus irmãos aprendemos piano desde muito novos e até tocávamos trechos, a quatro mãos, nos aniversários dos meus pais.Depois, com o aumento das exigências escolares fui abandonando. E hoje tenho imensa pena de não ser já capaz de tocar piano. E até estou um pouco desmotivada para ouvir música. É a idade a bater à porta. Mas continuo a gostar muito e tenho um irmão, mais novo que eu, que continua a ser um grande amante e conhecedor de música. Um abraço.

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  5. A minha Mãe dizia que à medida que ia envelhecendo, lhe cutava cada vez mais ouvir música, pois ficava nostálgica e triste. Espero que isso não me acontaça. Infelizmente muitos jovens deixam de tocar depois duma certa idade. Gosto muito de ouvir o meu filho e o meu neto a tocar piano, mas gosto ainda mais de os ouvir a tocar violino e flauta. Bjinho e as melhoras.....

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  6. Desculpe as gralhas, Graciette. Vejo mal...

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