sábado, 9 de janeiro de 2016

A felicidade

Anda a circular nas redes sociais o vídeo duma conferência dada em Harvard pelo professor Robert Waldinger. Nela, ele apresenta os resultados de estudo ao longo de 75 anos sobre a felicidade e os factores que contribuem para ela. Muito interessante e acessível, mas não inteiramente real, na minha modesta opinião.


"As pessoas que têm boas ligações sociais com a família, com amigos e com a comunidade são mais felizes, são fisicamente mais saudáveis e vivem mais tempo...o que conta não é só o número de amigos, mas a qualidade das relações...as boas relações protegem o corpo e o cérebro...uma vida boa constrói-se com boas relações."

Teria muitos argumentos para contrapor a esta conclusão do estudo.
Há momentos na vida em que as relações sociais são muito importantes, mais do que a saúde ou o dinheiro. Em adolescentes, em geral não temos grandes problemas de saúde, nem precisamos de ganhar a nossa vida, queremos é dar-nos bem, socializar, sentirmo-nos integrados, alimentar o nosso ego, sermos populares.


Hyde Park- Leeds










Mais tarde, relativizamos melhor os elos sociais. E até passamos bem sem pessoas que nos eram próximas no local de trabalho. Podemos viver em contacto com duas ou três pessoas com quem contamos para nos ajudarem, mas não somos dependentes delas para nos sentirmos felizes.

Nos EU, as mulheres não querem viver sozinhas duma maneira geral. Mal se separam, ficam numa ânsia para arranjar novo namorado, marido ou companheiro.
Não me parece que isso traga felicidade, pelo contrário. É uma insatisfação permanente. Quer-se sempre mais e mais.

Pessoalmente, não trocava uma tarde aqui à lareira a ouvir os Adágios barrocos  por uma ida à esplanada ou café com "amigas", entabular conversas circunstanciais, falar e ouvir pessoas a falar das suas vidas. Ao fim duma hora já estaria cansada delas e ansiosa por estar só.




Sempre fui muito solitária nas minhas escolhas, nos meus passeios, nas deambulações pela cidade, mesmo quando era jovem e vivia em Lisboa. Adorava flanar nas avenidas novas, no Saldanha ou na Baixa e preenchia o pouco tempo livre que tinha nas livrarias da cidade.  Aqui no Porto, saía sempre sozinha, percorria Cedofeita duma ponta à outra, ia ao Britânico ver a biblioteca, à editora, nunca me perturbou andar na rua sozinha. No ano passado fiz tudo sem a família que estava longe. Até quando ia ao ginásio, o fazia sozinha. Nada melhor do que nadar na piscina sem ninguém. Claro que sentia a falta dos meus meninos, mas isso não me tirava a vontade de viver, nem me dava depressão.

O que não compreendo é que se possa ser plenamente feliz rodeado de gente por todos os lados.


Deus nos dá pessoas e coisas, 
para aprendermos a alegria...
Depois, retoma coisas e pessoas 
para ver se já somos capazes da alegria
sozinhos...
Essa... é a alegria que ele quer

Guimarães Rosa



4 comentários:

  1. As receitas de felicidade que apregoam a cada instante não podem ser como as de um livro de culinária. Agora deram para isso!
    É bom sentir que temos pessoas com quem se possa contar e vice- versa. Mas muita interferência acho que não é bom. Para mim não é, porque preservo muito os meus espaços e coloco barreiras, cada vez mais!
    Por outro lado, o mundo mudou, há imensas coisas onde nos podemos entreter sem ter gente por perto e sentimo-nos bem assim...
    Beijo.


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    1. É exactamente o que penso.

      A formatação deste post ficou esquisita, ando a ver se a corrijo!!

      Bom Domingo!

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  2. Penso que a qualidade das relações é mais importante do que o número de amigos ou familiares. Os amigos são importantes, mas todos precisamos de momentos de qualidade a sós, seja a ler, a ouvir música, a pintar, a jardinar ou a passear. Com a idade, vamos aprendendo a apreciar e a valorizar, cada vez mais, esses pequenos prazeres que, tal como os amigos, são insubstituíveis. Tudo tem o seu tempo e a sua disposição. A última foto (maravilhosa) traduz exatamente esses momentos de qualidade que gostamos de passar connosco próprias.

    Um beijinho, Virginia, e um bom domingo :)

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  3. Sim, o equilíbrio é fundamental, não se deve querer isolamento total, pois todos precisamos de outros em horas difíceis. No ano passado soube o que era a solidão durante a semana e não aprecio.
    Esta foto foi tirada com o meu iPad, gosto muito dela....
    Boa semana!

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