Ontem o meu irmão mais novo presenteou-me com uma colecção de poemas dele e não só. Também acrescentou alguns bem significativos de Torquato Luz, que confesso desconhecia. Sabia que eu estava a atravessar momentos menos bons - deve tê-lo pressentido, pois chegaram no momento certo.
Eis aqui os que ele me enviou desse poeta em três fases diferentes da noite.
Nem todos os barcos voltam à praia,
há sempre um ou outro que o mar envolve
na sua teia de algas e corais.
Sei de alguns que, uma vez partidos
com seus audazes marinheiros,
jamais regressaram.
Embora os jornais falem de naufrágios,
a verdade é que, cioso, o mar os guarda
para, intactos, um dia os devolver
a praias por haver.
Entre o cais de partida e o de chegada
deste mistério a que chamamos vida,
olhando em volta não se vê mais nada
que o nevoeiro da despedida.
Mal se nasce, inicia-se a contagem
do que temos de deixar
ao longo da viagem.
São contas de sumir, não de somar,
mais de perder do que de achar.
Mas não se tira vantagem
do que lançamos ao mar
e para se ser livre e ser inteiro
importa ousar romper o nevoeiro.
Torquato Luz
Como não sei fazer poemas, resolvi agradecer-lhe com uma colagem de pedaços de rochas que fotografei na praia da Luz das diversas vezes em que lá estive. Gosto de cada uma destas fotografias, pois parecem quadros autênticos.
O efeito da água nas rochas seja antigo ou recente é duma beleza rara.
Será que a maioria das pessoas que se passeiam naquelas rochas e que têm o mau gosto de as "desflorar" a canivete têm a noção de que estão a alterar o que levou mais de mil anos a criar?
Eis aqui os que ele me enviou desse poeta em três fases diferentes da noite.
Nem todos os barcos voltam à praia,
há sempre um ou outro que o mar envolve
na sua teia de algas e corais.
Sei de alguns que, uma vez partidos
com seus audazes marinheiros,
jamais regressaram.
Embora os jornais falem de naufrágios,
a verdade é que, cioso, o mar os guarda
para, intactos, um dia os devolver
a praias por haver.
Às vezes parece que o mundo desaba,
mas não podemos desabar com ele,
por mais que nos queime a pele
a sensação de que tudo acaba
ou está prestes a ruir.
Depois da chuva, a enxurrada
prenuncia a madrugada
que há-de vir.
deste mistério a que chamamos vida,
olhando em volta não se vê mais nada
que o nevoeiro da despedida.
Mal se nasce, inicia-se a contagem
do que temos de deixar
ao longo da viagem.
São contas de sumir, não de somar,
mais de perder do que de achar.
Mas não se tira vantagem
do que lançamos ao mar
e para se ser livre e ser inteiro
importa ousar romper o nevoeiro.
Torquato Luz
Como não sei fazer poemas, resolvi agradecer-lhe com uma colagem de pedaços de rochas que fotografei na praia da Luz das diversas vezes em que lá estive. Gosto de cada uma destas fotografias, pois parecem quadros autênticos.
O efeito da água nas rochas seja antigo ou recente é duma beleza rara.
Será que a maioria das pessoas que se passeiam naquelas rochas e que têm o mau gosto de as "desflorar" a canivete têm a noção de que estão a alterar o que levou mais de mil anos a criar?
Torquato da Luz foi um jornalista, pintor (as pinturas do blogue dele são, na maioria, de sua autoria) e poeta.
ResponderEliminarMorreu de um problema cardíaco, muito novo ainda, no ano passado. É um grande poeta romântico, que associa a simplicidade e coloquialidade a uma enorme sensibilidade estética. Observa, comenta, analisa, contempla. E descreve e escreve. Dá gosto ler. porque em tão escassas linhas consegue expressar tanto.
Hei-de pesquisar. Já tinha ouvido falar dele, mas não fazia ideia dos poemas nem das pinturas. São lindos, duma simplicidade fascinante, detesto poemas rebuscados e longos. Os teus também são lindos. Posso publicar uns aqui? :)
EliminarEu conhecia o Torquato Luz.Estes poemas são um pouco pessimista embora não excluam a esperança. Eu sou um pouco assim. Quando há um aniversário costumo dizer que se faz menos um ano. Mas temos que continuar a viver e a tentar apreciar as coisas belas da vida e da Natureza tal como essa coleção de pedras que apresenta. São maravilhosas.
ResponderEliminarUm beijo.
Os poemas têm sempre laivos de esperança e é esse o seu encanto.
ResponderEliminarEsse seu comentário aos aniversários é curioso...realmente não é mais um , é menos um.....na roda da fortuna....
Bjinho