quarta-feira, 27 de agosto de 2014

As elites e a banalização das massas


Hoje li e respondi a um post do blogue Fio de Prumo, que consta aqui da minha lista. A entrada focava o culto da banalidade na nossa sociedade e nos seus hábitos ou atitudes.


Para mim este é um assunto cliché e que revela uma certo desprezo pelo povo, se não mesmo preconceitos de classe latentes.
Penso que se houvesse blogues há 300 anos, as pessoas eruditas ou letradas teriam expresso as mesmas ideias, as mesmas queixas e talvez até ipsis verbis o mesmo tipo de comentários.

Transcrevo aqui a parte final do post de HSC, pessoa que admiro e com quem me identifico nalgumas opiniões.

Confesso que não sei o que terá provocado esta busca incessante da banalidade. Acredito que a 

globalização lhe não seja alheia, com a importação de modelos que pouco ou nada têm a ver 

connosco, mas que passaram a fazer parte do que chamamos de modernidade.

Creio, igualmente, que a necessidade de nos tornarmos europeus – perdendo especificidades de que, 

parece, nos envergonhamos – tenha também a ver com o assunto.

Mas, na base de tudo isto, o que julgo estar verdadeiramente em causa é um abandono da procura 

da excelência e a aceitação da mediocridade como uma forma de existir.



Parece-me muito redutora esta visão do panorama social português actual, onde podemos assistir a  toda a espécie de demonstrações culturais - medíocres, médias ou excelentes.

Cada vez mais se valoriza o que é nacional, nem sempre muito bom, mas bem nosso, como o Fado ou a música "do mundo", o desporto, mas também a pintura, a arquitectura, a fotografia e outras formas de Arte.
Nunca houve tanta promoção de artistas portugueses e nunca se viu tanto talento nos jovens que concorrem a programas de TV ou a bolsas para o estrangeiro.  Há grupos que noutros países com mais audiências já estariam lançados em carreiras brilhantes, mesmo em áreas científicas , onde até há bem pouco tempo, nada tínhamos a acrescentar.

O que acontece é que, como aconteceu com a educação, todos agora têm acesso aos eventos e actividades, já não são só as elites que se dão ao luxo de conviver em festas de arromba ou ir à ópera, todo o povo quer participar, quer actuar, quer viver e tem o direito de o fazer.

É claro que a massificação dos media, das redes sociais e doutras actividades de lazer leva a uma banalização de algo que outrora era só reservado às elites.
As elites - ou aqueles que se acham elites -  não se revêem neste tipo de eventos, sentem-se ostracizados num país onde grangeavam de uma vida em grande ainda há bem pouco tempo. Contra mim falo, que também pertenci a essas elites, por hereditariedade, que não por gosto.

Que dizer? Tant pis ( temos pena, como se diz em gíria popular)!

Oiço neste momento um programa de árias de ópera no Brava HD ( canal que compro por 2.50 €) com a orquestra sinfónica de Berlim.
Excepcional. Parece que estou a assistir ao vivo um espectáculo magnífico e este está
à disposição de qualquer pessoas que tenha TV Cabo. Hoje em dia quem a não tem?

Quanto não teria dado o meu Avô por poder ver este programa na sua salinha há cem anos atrás?

Será isto a banalização da música ou verdadeira democracia?


6 comentários:

  1. Acho que tem toda a razão no aspecto dos jovens de hoje não se envergonharem com a nossa cultura portuguesa. Aliás, até a defendem. Antigamente quem gostava de fado? Mesmo os que gostavam diziam à boca pequena como se fosse uma coisa muito feia porque eram logo escarnecidos. Eu própria nunca apreciei. Hoje aprecio se ouvir numa boa voz, o que é raro!...
    Por coincidência, hoje, na página de uma amiga que tenho no FB escrevia que não gostava de arraiais populares . Respondi-lhe meio a brincar que ela era uma elitista. Pela hora, ainda a Virgínia não tinha escrito este post! Quanto ao resto , olhe não sei que diga porque também vejo-me a criticar certas mediocridades , mas se calhar não sei o que digo! Lendo o que escreveu dá para pensar mais no assunto. Mas de uma coisa tenho certeza, para mim seria tortura estar em certos ambientes.

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  2. Madalena, o afcto de haver esta massificação não onos obriga a apreciar o que é mediocre, pimba ou demasiado bacõco! Uma coisa é considerar que todos têm direito ao divertimento, outra é participarmos ou apreciarmos o que nada nos diz e em termos de cultura não acrescenta ao que já existe. Há programas de TV populares que são puro lixo e insurjo-me que ocupem tempo de antena, seja em que canal for. Também não gosto de arraiais, nem de foguetório ou manifestações de rua, mas não acho que se devam proibir a não ser que seja a horas impróprias e perturbem os habitantes da zona. Pode criticar à vontade, isso é que liberdade de expressão. A minha filha adora isso tudo, mas tem outra idade!!
    Fui agora jantar à Ribeira e adorei estar no meio do povo, turistas e gente do bairro, tudo feliz e contente. Esta cidade é fantástica nesse aspecto.
    Bjinho

    Para mim também seria tortura ir a certos eventos sofisticados ou festas das elites. Morria, acho eu!

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    1. Acabei de ler ler o fio de prumo, também gosto de lá ir... Foquei mais atenção ao post que deu para esta conversa e também me baralhou um bocadinho. Então não somos todos um pouco narcisistas vindo para o mundo virtual ? (risos) Pelo menos temos muito por onde escolher...Nem sempre fácil porque o excesso de informação, diz quem sabe, desinforma. Eu cá penso assim, ainda bem que existe oportunidades para toda a gente se exprimir...desde que não seja em prejuízo da Humanidade. Quanto a ambientes de festejos formais de "tric e tric" e de capelinhas. Ah, não! Prefiro antes estar a ver e ouvir o Quim Barreiros num arraial. Aliás, já o fiz pelo menos uma vez e não desgostei...Houve imenso alegria. Um dia que me lembro ainda hei-de contar os passeios que faço por este Portugal fora... Bem sei que para certas pessoas é algo que leva a um certo preconceito.Ainda para mais a maioria são velhos. É para o lado que durmo melhor. Beijinhos.

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    2. Todos nós somos narcisistas. Não há ninguém que não se olhe ao espelho todos os dias.
      Numa peça de Sartre chamada "Huis-Clos", três personagens vão para o Inferno e o seu sofrimento consiste em ter de aturar mais duas pessoas num quarto onde não há espelhos. Cada um só vê os outros dois. A conclusão de Sartre é que "L'enfer sont les autres" - o inferno são os outros.
      Ora nós vivemos metade da nossa vida a olhar pelos outros, preocupados com os outros, não havemos de ter moemntos de introspecção e auto-observação. Isso não quer dizer que sejamos egoístas ou egocentristas.
      Entre Quim Barreiros e festas VIP, venha o diabo e escolha.....prefiro estar em casa a ouvir música clássica e a fazer crochet !!! Obrigada, Madalena! E não se preocupe que eu tb durmo melhor para esse lado! Bjinho

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  3. De acordo! Já sem falar daqueles que falam com jactância da música pimba (Quim Barreiros, Tony Carreira, etc) e escolhem essa música para os seus casamentos ou festas... é como brincar aos pobrezinhos na Comporta...
    A televisão e outros meios reflectem a sociedade e o tecido social. Há muita coisa que consideramos "boa" - conseguem-se 24 horas de telelixo ou 24 horas de excelência. Mas a estética não tem dono, ao contrário da ética que tem baias. Pode gostar-se de tudo, e é bom ver, ouvir, ler um pouco de tudo para, exactamente, ter-se mais certezas do que se gosta ou, até, encontrar caminhos novos até aí desconhecidos. As extrapolações para a conclusão de que "o mundo está perdido" são muito redutoras e, até, cientificamente erradas.

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  4. Obrigada, Mano. Estamos em sintonia. E nós sabemos - tu mais do que eu - o que eram as elites no tempo da outra senhora....enervam-me estes comentários acerca da banalização vindas de pessoas que escrevem banalidades e publicam-nas como se fossem escritos excelentes...
    A propósito para quando esse livro de poesia maravilhosa que já (com)provei!?
    Bjinho

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