quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Turismo ao pé da porta


Passar o mês de Agosto no Porto é uma das experiências mais agradáveis que tenho tido nos últimos anos. Em geral, nunca passava cá todo o mês, ia para o Algarve, para Porto Santo, para Ofir, etc.

Nada melhor do que ver a nossa cidade como ela merece ser vista. Como se fôssemos turistas  e não vivêssemos cá. Tudo parece diferente.

Foi o que a minha Luisa e eu fizémos hoje à tardinha. Saímos de casa pelas 7, metemo-nos num taxi, pois daqui para a Ribeira é perto, mas não há autocarros; saímos perto da Praça do Cubo e descemos a rua íngreme até ao rio, misturando-nos com as pessoas que por ali passeavam.

Quando lá chegámos havia uma brisa que convidava a um passeio de barco ao pôr do sol. Olhei para a minha filha, ela olhou para mim e só dissémos: Vamos?

 O último barco era às 7.30. Havia dezenas de pessoas a passear , a beber um copo, a contemplar a vista esplendorosa da ponte Luiz I, a namorar, sentados nos muros, nas escadinhas, nas esplanadas, em tudo quanto é sítio...Uma autêntica paleta de gente, sotaques, línguas, risos e boa disposição. Ir à Ribeira é muito mais pitoresco do que ir à Foz, local pouco animado à noite.

Não nos arrependemos. As pontes do Porto são seis e o barco faz a volta toda....pode-se ver Gaia e toda zona ribeirinha do Porto quase até à Foz. O barco ia apinhado, mas consegui tirar quase 50 fotos para além de gozar do passeio.
Há sensações que não se descrevem, já há uns 15 anos que não fazia este passeio e a espontaneidade da decisão recompensou-nos duplamente. A hora era boa e a tare estava de sonho.


A luz do sol já era frágil, a Lua crescente erguia-se no céu, o barco deslizava e diante de nós desfilavam  varandas de filigrana das cores mais diversas, roupa a secar, crianças a correr, pescadores, barcos rabelos, Caves do vinho do Porto, torres de igrejas, casas degradadas, restaurantes, jardins e gente, gente feliz.

 etc.

Sugeri  ao encarregado do barco que organizassem destes passeios à noite. O homem esteve a falar comigo uns dez minutos enquanto desatava os nós e prendia o barco à amurada. Disse-me que trabalhava das 8 às 8 e ganhava 600 euros, uma miséria. Os patrões tinham vários barcos, mercedes, casa de luxo e uma vida de reis.
Em Lagos, a história era a mesma, os portugueses são explorados em todo o lado. Mas sem eles não haveria quem manejasse os barcos, quem conhecesse o rio ou as grutas de Lagos. Esta gente devia ser muito bem paga. E senhores do seus barcos, mas tem de se submeter às ordens dos patrões, alguns estrangeiros que investem o seu dinheiro e ganham balúrdios, sobretudo nesta época. Uma tristeza....


Jantámos no restaurante do costume Filha da Mãe Preta, onde o empregado, um castiço, nos saudou como se fôssemos umas rainhas. Os rojões estavam um mimo, os pastelinhos de bacalhau de sonho, a cerveja fantástica e tudo ficou em 23 euros. Inacreditável. Só em Portugal....

Ainda tivémos a benesse de ver um espectaculo de bolas de sabão gigantescas, que um artista formava na praça do Cubo para gáudio das crianças que as queriam apanhar em vão. As bolas translúcidas reflectiam as luzes amarelas dos candeeiros antigos e tornavam a cena absolutamente indescritível.



6 comentários:

  1. Sim, senhora, mãezinha, foi mesmo assim - de sonho! Vamos a mais uma? :-DDD Beijinho grande, Carocheta :)

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  2. A mais uma, duas ou três....conforme a disposição e o tempo......esta já cá canta e que bem nos soube.

    Obrigada pela companhia - Simply the best!!!

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  3. Sim, sem essa multidão de anónimos e explorados, o mundo parava. Vamos então sonhar que o Mundo vai "pular e avançar como bola colorida entre as mãos de uma criança". E então esses belos passeios que a Virgínia tão bem descreve e que eu também já fiz,serão ainda mais saborosos.

    Um beijo.

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    1. É melhor acreditar que um dia essas pessoas serão capazes de se governar por si e deixar de trabalhar para um bando de ladrões. Muitas vezes me perguntei porque não havia passeios no Douro -há 30 anos - e quando começaram, havia dois barcos que faziam a subida do Douro. Agora há dezenas e o dono é milionário....

      bjinhos

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  4. Olá, Virgínia!
    Comecei a ler este post até aos que ainda não tinha lido...Fiquei vidrada na leitura de todos eles. Quando isto me acontece saio um pouco da realidade, e fico com a sensação que estou a conversar directamente com a pessoa que descreve, tal é a absorção!...
    Noto que está a enfrentar a vida com valentia. Mas que bom! Vai ver que vai dar certo ter estas atitudes e é bem capaz de ser um dos melhores anos que irá ter... Ah fiquei com um pouquinho de inveja daquele lugar com piscina (risos)
    Também referiu-se a uma igreja em Londres, não sei se é a mesma que costumo lá ir , quando visito Londres, para ouvir os ensaios de música que lá fazem, que são de entrada livre! Fica perto da Art Gallery. Um dia, nesse lugar senti-me uma Alice. Vi na rua um elevador para o subterrâneo. Foi -se descendo e o que lá está ali para baixo é um espanto, pertences dessa mesma igreja !...
    O que relatou sobre a Ribeira do Porto é o que mais conheço da Invicta . Só que não vou de taxi...é sempre a pé! Eu sei que não faz porque tem problemas no joelho e não deve abusar. Um grande abraço e obrigada por este bocadinho!
    Ah! Tenho que lhe dizer que a primeira estrofe do poema em castelhano mexeu comigo!...Quando olho o mar também acho que o horizonte é um prolongadamente de mim . Embora já sentisse mais este sentimento...

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  5. Querida Madalena, tenho pensado muito em si, na sua alegria de viver, é um exemplo para mim...pois fui-me muito abaixo com a partida dos meus netos para os EU. Resolvi então dar uma volta à vida e estou feliz. Ainda hoje estive no clube, nadei uma hora e saí de lá outra. Vejo gente, animação e não passo o tempo a fazer horas para os meus netos virem, sou perfeitamente senhora do meu tempo que é a melhor coisa do mundo. E em setembro quando a minha Luisa for para Leeds, ainda vou estranhar mais pois ela faz-me companhia para tudo, mas hei-de me aguentar.
    A igreja a que se refere é a mesma, fica junto à Natinal gallery. Para comprar os bilhetes desce-se esse elevador maluco e vai dar-se a um café muito giro!! Também lá ouvi concertos muitas vezes.
    Já sei que esteve nas grutas de Lagos e já vi que as minhas dicas serviram de alguma coisa :).

    Gostava bem de a conhecer, se vier ao Porto por favor escreva-me, OK?

    bjinhos

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