sexta-feira, 1 de agosto de 2014

A distância que se encurta...numa ilusão de óptica

Quando era jovem viajei várias vezes sem a família. Era o tempo das cartas, não havia telefone, uma chamada custava um balúrdio e não durava nada.

Foi assim que estive em Londres dois meses, em Bonn um mês, em Viena de Áustria um mês e meio, tudo no início do s anos 70.
Foi mesmo um sacrifício dos grandes, visto que as viagens não eram turísticas  mas de trabalho não remunerado. Os objectivos eram aprender alemão!!

Em Londres preparei a minha tese de licenciatura, vivendo em casa duma amiga portuguesa casada com um australiano com cinco filhos. Durante a manhã trabalhava na biblioteca da Universidade, levando um snack para comer ao almoço. Pelas 3 saía e percorria o caminho todo até à Oxford Street - uns dois kms - onde me deleitava a namorar as lojas com objectos encantatórios, a mim que vivia numa Lisboa pobre em matéria de comércio, ainda sem grandes armazens nem shopping centres. Tudo me parecia lindo, deambulava pelos Selfridges, olhava-me nos espelhos da secção de cosmética, percorria as secções de casa, sempre com lençóis, almofadas, cobertas e acessórios de encher o olho. Nada comprava, pois o dinheiro já mal chegava para viver. O meu luxo era comer umas panquecas com natas e syrup no Old Kentucky que depois se transformou em Pizza Hut ou coisa que o valha.

Em Bonn passava os dias a tomar conta de miudos dos 4 aos 10 anos, uma família enorme de crianças tipicamente alemãs, com calções de couro todos iguais. Só havia uma menina, a Petra, que era muito manhosa e pouco simpática. O Pai trabalhava num supermercado a acartar caixotes e quando chegava, tomava um duche e sentava-se ao piano. Nunca tal cena poderia passar-se em Lisboa....foram dias e dias muito longos, sem distrações, dei um suspiro de alívio quando me vim embora de comboio numa viagem que durava dois dias, sem conforto de espécie nenhuma. Fiz isto para aprender alemão e a verdade é que aprendi mesmo, já que ninguém falava português.

Na Áustria estive em casa duns amigos do meu Avô - uma família que já tinha pergaminhos e uma editora de renome em Viena. Fui para frequentar um curso de Alemão na universidade e tomar conta dos miudos - dois - durante a tarde. Não gostei da experiência, pois na universidade só havia russos, jugoslavos, romenos e polacos. Ninguém dos países ocidentais, nem das Américas. Mesmo assim criei laços de amizade com uma rapariga jugoslava que falava menos mal inglês. Mal comunicava com os meus Pais e tinha imensas saudades.

Tudo isto para confirmar (?) aquilo que me têm dito os amigos: com o skype e emails nem vais dar pela falta dos teus netos!! Ou seja esses meios de comunicação substituem ou preenchem o vazio que sentes por não os veres! Nada de mais falso.  Então prefiro a honestidade bruta do meu ex-marido que me diz: "Claro que ficaste desolada! Tu só pensas neles o tempo todo!"

Penso é que quanto mais os vir no écran, mais  saudades tenho de lhes tocar e de os abraçar.

Ontem recebi dois mails do meu querido neto, qual deles mais querido e outros do filho e da nora, este com fotos dos meninos a tomar banho nas águas do Pacífico.
Já tinham pranchas e tudo!! A viagem fora uma "seca" ( sic), sobretudo a entrada nos EU, mas já estavam em Los Angeles em casa duns amigos e " a vida era bela". O meu neto dizia que estava a contar os dias para a minha ida.....e que me responderia a todos os mails que eu escrevesse quando me sentisse só. Mandou-me um beijo do tamanho do Burj Khalifa , que desconhecia totalmente. Afinal é o arranha-céus mais alto do mundo. É com as crianças que mais aprendemos!! :)

A vida agora é mais colorida, as viagens mais fáceis, aguenta-se melhor o desconforto. Mas a distância continua a existir.

Sinto um peso enorme quando olho para o pátio ou para a rua, quando me sento só nesta sala enorme e antevejo um longo inverno de silêncio e depressão...dava tudo para ouvir os meus netos ou sentir as suas carícias....

2 comentários:

  1. Apesar de tudo, Virgínia, que vida tão preenchida tem sido a sua!!!!
    Um beijo.

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  2. Sempre me esforcei por aproveitar ao máximo as chances de aprender e melhorar, mesmo com muito sacrifício da minha parte ( devo confessar que tive momentos de horror, mesmo). Talvez por isso sou forte, mas vulnerável e muito sensível a tudo...

    Bom fin de semana sem chuva!!

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