quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Momentos de ouro


Viver na cidade tem os seus inconvenientes. Um deles é a ausência de espaços verdes, o excesso de betão, o barulho, a poluição, etc.

Durante vinte anos vivi em Lisboa numa zona limítrofe - o afamado Restelo - onde parecíamos estar no campo. Quando para lá fomos em 1951 era uma zona degradada, com terrenos baldios, onde até os ciganos montavam as suas roulottes. Em frente do nosso jardim apinocado demais para meu gosto, havia campos de espigas e papoilas com joaninhas, borboletas e lagartixas que faziam os nossos encantos, de modo que saltávamos o muro frequentemente e entrávamos na "selva".

Quando mudámos em 1971 para o centro de Lisboa, adorei o facto de poder ir a pé para o liceu onde era professora, apesar de estarmos um pouco apertados num apartamento, cinco filhos, a minha Avó e os meus Pais. Só lá vivi dois anos pois casei em 1973. O apartamento tinha árvores à volta e o jardim da Gulbenkian a dois passos. Passei lá muitas horas esquecidas...

Aqui no Porto vivi sempre na Ramada Alta - que de ramada tem pouco - e gostava das árvores do jardim do liceu que via da janela da sala de aula, do pôr do sol e horizontes que o andar de cima nos oferecia. Infelizmente em dez anos , tudo acabou: construíram prédios altíssimos que nos taparam completamente a vista e deitaram abaixo muitas árvores do jardim a pretexto de que seria mais seguro durante a noite ( um crime autêntico). Em pouco tempo aquela rua lindíssima que é a Infanta D. Maria ficou desfigurada.
 Em 2006 comprei este apartamento onde vivo e onde me sinto, por vezes, demasiado afastada do bulício das lojas e cafés - não há senão um aqui no quarteirão - .
O facto de estar numa zona residencial, no entanto, provou ser benéfico para a minha filha e em breve me habituei à ausência de lojas e supermercados e recomecei a apreciar o encanto dos jardins e das árvores de grande porte que me rodeiam. Áceres, castanheiros, bétulas, pinheiros,  palmeiras e arbustos diversos, tudo se vê das minhas janelas, é um nunca acabar de sensações infindas.


Liguei agora o Brava HD e por coincidência - ou não - toca-se a Pastoral de Beethoven, que acompanha maravilhosamente aquilo que descrevo. Harmonia perfeita.

Habituei-me a só ver árvores das janelas; dum lado o Botânico, que, no verão, nem deixa quase entrever a Casa Andersen - do outro os jardins das vivendas e da Casa das Artes da Rua António Cardoso. Só verde, castanho, vermelho. Silhuetas ao pôr do sol que variam todos os dias.

Todas estas fotos foram tiradas hoje, dia dos anos do meu filho mais novo. Infelizmente não poderei estar com ele pela primeira vez em 34 anos.
Estou um pouco triste.

Mas consigo sonhar aqui.

6 comentários:


  1. Viver na cidade(s) é o destino da humanidade! Li há uns tempos na revista TIME que o governo da China está a esvaziar (e este é o termo certo) regiões rurais e a implantar as populações nas cidades, em bairros gigantescos com casas apetrechadas de eletrodomésticos!! Descreviam-se casos em que os pobres chineses, vindos dos confins da China Rural, nem sabiam para que serviam as máquinas de lavar a roupa! Claro que eram referidas as vantagens dessas deslocações massivas, mas que obviamente aqui não vou reproduzir.
    Bom, mas mesmo nas grandes cidades/grandes áreas urbanas também há sítios se não paradisíacos, pelo menos tranquilos e cheios de verde. Não era assim em Mountain View, Palo Alto, los Altos...? Isto só para falar nos que recentemente conheceu!
    À nossa escala, até o meu Areeiro, que alguém jocosamente apelidou de sub-urbano (acho que por inveja) me permite em sossego, ouvir os passarinhos, o galo da quinta lá longe juntamente com o piar aflitivo de um pavão que os mesmos têm!

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  2. Sim, os ingleses sabemo que é viver na cidade, como se estivessem no campo. Mesmo em Londres, muitas casas têm um pequeno jardim, embora fiquem nos arrabaldes da cidade. Mas commuting ( deslocar-se) todos os dias não é nada agradável. Passei dezoito anos da minha vida a andar de autocarros em Lisboa e penso que foi tempo perdido. Em Mountain View falta animação, é demasiada habitação sem lojas, nem gente. Só a Castro Street tem alguma vida!!
    O sitio onde vivo no Porto é fantástico!!
    No Restelo ouviam-se pavões dos Altos Estudos Militares e não era nada agradável......cães detesto.....e galos confesso que dispenso!!!
    Sou mais citadina que rural.....gosto do in-between.

    Bom fim de semana!

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  3. Conheço a zona do Restelo em Lisboa/Algés desde os anos 50. Era e continua a ser uma belíssima zona para se viver. Não posso comparar com a sua zona do Porto, porque não conheço.
    Cumprimentos

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  4. Nunca gostei do Restelo apesar de ser considerada zona chique porque não havia transportes - sabe o que é ter de ir de autcarro durante 12 anos para o liceu e depois faculdade? Levava 1 hora e meia a chegar às aulas que começavam às 8.30. Um desperdício. Também detestava andar a pé naquelas ruas sem ninguém - uma vez fui perseguida por um homem e levei 15m a chegar a casa num pânico - os jardins com cães a ladrar, a ausência de lojas ao pé. Morava ao pé do Estádio do Restelo, a casa era linda e o jardim também. Não critico o meu Pai por querer viver lá, mas aquilo era um ermo quando fomos para lá viver em 1951!!!
    A minha zona aqui no Porto tem a vantagem de estar a 15m a pé do centro....

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    1. Concordo plenamente com a Senhora. Embora os transportes públicos atualmente, ao contrário desses tempos, sejam bons, é certo que são zonas onde é indispensável cada família ter alguns automóveis disponíveis. Bem perto desse local, tem lá um belíssimo supermercado do Corte-Inglês.
      Meus cumprimentos

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  5. Trate-me por Virgínia. Nos blogues não há senhoras nem doutores !!! O Restelo está muito diferente do que era e hoje em dia toda a ente tem carro. A minha Mãe não conduzia e andávamos sempre de autocarro, no 12 e no 43. Eu achava graça a ir com a minha Mãe à Baixa no 43, mas era uma cerimónia, primeiro que viesse o autocarro!!! :)
    Mesmo agora não viveria no Restelo nem que me pagassem, é uma bairro de que não gosto por várias razões, embora tenha lá família.
    Bom Domingo

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